Autor: “Correia da Fonseca”
Os náufragos*
No universo fragmentário da informação televisiva que temos, uma das realidades menos descrita diz respeito ao enorme universo dos que tinham um emprego e o perderam, dos que o procuram há muito ou pouco tempo e nunca o encontraram. E, entretanto, são muitas centenas de milhares, e a sua tragédia não é só uma soma de tragédias individuais, de fragmentos que ocultam a dimensão do conjunto.
Sexagenária*
A RTP comemora o 60º aniversário. Fez a festa e deitou os foguetes, mas as razões para o público festejar não são muitas. Em 60 anos passou-se muita coisa mas, mesmo descontando os 17 anos em que foi ferreamente tutelada pelo regime fascista, muito poucas vezes poderá dizer-se que a RTP se colocou do lado certo. Do lado que se exigiria de um serviço público num regime verdadeiramente democrático.
A voz incómoda*
Num programa da televisão pública, a apresentadora interrompe o secretário-geral da CGTP, que denunciava com números e factos as consequências da legislação laboral imposta pelas troikas, e que o actual governo não quer rever. É assim o pluralismo do sistema: os representantes da classe dominante têm todo o tempo e todos os espaços que quiserem. Para os trabalhadores, o pouquÍssimo tempo disponÍvel ainda é reduzido. A razão é fácil de entender: o público de um grande meio e comunicação de massa é constituÍdo maioritariamente por explorados, não por exploradores. Mas é o discurso dos exploradores o que lhe é impingido.
Campo de batalha*
A mentira – com o nome de “pós-verdade” ou de “factos alternativos”, é certo – passou agora a ser explicitamente assumida como parte integrante e normal do discurso polÍtico reaccionário, mas há muito que era um dos seus esteios fundamentais. Redobra portanto a importância de olhar criticamente tudo o que é servido como “informação”. Em boa parte dos casos o nome que merece é o de “manipulação”.
Mário Soares, naturalmente*
Pode-se reflectir sobre as condições e circunstâncias, nacionais e não só, dos tempos imediatamente posteriores ao derrube da ditadura fascista e sobre algumas eventualidades delas decorrentes. Mas não é possÍvel sustentar seriamente que a acção de Mário Soares nesses tempos decisivos contribuiu para a obtenção das condições sociopolÍticas de uma Liberdade que excedesse as tradicionais condições elementares.
A resposta de Vladimir*
Com base em acusações cujo fundamento ainda ninguém descortinou, Obama decidiu expulsar uns quantos diplomatas russos. Mas, ao contrário do que talvez esperaria, Putin não lhe respondeu na mesma moeda. O que deixou ainda mais evidente que o final de mandato de Obama associa Í irresponsabilidade agressiva comportamentos que são verdadeiramente caricatos, mesmo pelos padrões dos EUA.
Mordaças*
Um delinquente em fuga prendeu e amordaçou duas pessoas. Prender é impedir o movimento, amordaçar é impedir de comunicar. Há outras circunstâncias, não menos delinquentes, em que a mordaça é sistematicamente utilizada: nos locais de trabalho, para calar o protesto e a luta contra a exploração. Nos grandes meios de comunicação social, para negar o direito Í informação.