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Stephen Cohen, um erudito e uma autoridade de topo acerca da Rússia:

Os Editores :: 27.03.15

Publicamos os tópicos da comunicação apresentada por Stephen Cohen numa mesa redonda realizada em Bruxelas em 2 de Março. Sendo apenas tópicos, traçam uma notável sÍ­ntese da forma como os EUA encaram a sua relação com a Rússia desde os anos 90 do século passado. E se podem fazer-se apreciações diferentes sobre a perspectiva da guerra, que decerto suscita reservas mesmo no interior do campo imperialista ocidental, há uma afirmação fundamental a reter: a de que essa perspectiva existe hoje, mas essa possibilidade nunca existiria sem o fim da URSS.

Guerra entre a NATO e a Rússia é uma possibilidade real

São os seguintes os pontos-chave da notável intervenção de Cohen:
• É real a possibilidade de uma guerra premeditada com a Rússia; isto nunca teria sido possÍ­vel no decurso da era soviética.
• Este problema não surgiu em Novembro de 2013 ou em 2008; este problema começou nos anos 1990 com a adopção pela administração Clinton de uma polÍ­tica de “o vencedor fica com tudo” em relação Í  Rússia pós-soviética.
• Juntamente com a expansão da NATO, os EUA adoptaram uma forma de polÍ­tica negocial designada “cooperação selectiva” – a Rússia dá, os EUA recebem.
• Não existe um único exemplo de concessão significativa ou de acordo recÍ­proco que os EUA tenham oferecido Í  Rússia em troca de tudo o que tem recebido desde os anos 90.
• Esta polͭtica tem sido prosseguida por todos os presidentes e por todos os Congressos dos EUA, do Presidente Clinton ao Presidente Obama.
• Os EUA estão autorizados a possuir uma esfera global de influência, mas a Rússia não está autorizada a esfera de influência nenhuma, nem mesmo em relação Í  Geórgia ou Í  Ucrânia.
• Durante 20 anos a Rússia foi excluÍ­da do Sistema de segurança europeu. For 20 years Russia was excluded from the European security system. A plataforma giratória deste Sistema de segurança foi a NATO, cuja expansão foi apontada contra a Rússia.
• Putin começou por ser um lÍ­der pró-ocidental, desejava uma parceria com os EUA, disponibilizou auxÍ­lio quando do 11 de Setembro e salvou muitas vidas americanas no Afeganistão.
• O que teve em troca foi mais expansão da NATO e a abolição unilateral do tratado sobre mÍ­sseis sobre o qual assentava todo o sistema de segurança russo.
• Putin não é um autocrata, é provavelmente muito autoritário no sentido de ser quem tem a última palavra nas decisões, mas é questionável por outros grupos de poder.
• Putin não é antiocidental e, como disse Khodorkovsky, é mais europeu do que 99 por cento dos russos. Tem-se tornado menos pró-ocidental, e particularmente menos pró-americano.
• Desde Novembro de 2013, Putin não se tornou agressivo mas sim reactivo. Tem sido criticado por esse motivo em cÍ­rculos de Moscovo, que o consideram um apaziguador (ou seja, macio, não suficientemente duro).
• Nós (académicos que nos opomos) não temos apoio efectivo na Administração, no Congresso, nos partidos polÍ­ticos, “think tanks” ou nos campus universitários. Esta situação não tem precedente na polÍ­tica americana. Não existe qualquer discurso nem debate, e isto constitui o fracasso da democracia americana.
• Está em curso uma demonização de Putin extraordinariamente irracional e não-factual. Nenhum lÍ­der soviético foi tão enxovalhado pessoalmente como Putin está agora a ser.
• A solução é uma federação que una a Ucrânia sem a Crimeia, que não regressará mais, livre comércio com o ocidente e com a Rússia e não incorporação da Ucrânia na NATO.
• Estas garantias devem ser consagradas por escrito e não, como fizeram com Gorbatchev, formuladas oralmente, e devem ser ratificadas pela ONU.
• O regime de Kiev não é democrático, mas ultranacionalista. Poroshenko é um presidente em declÍ­nio.
• Se o regime de Kiev não alterar a forma como encara a Rússia ou se o ocidente não deixar de apoiar incondicionalmente Kiev, estaremos a derivar para a guerra com a Rússia.

O Professor Stephen Cohen é uma das mais respeitadas autoridades no que se refere Í  Rússia entre os eruditos americanos e ocidentais. É especialista em Estudos Russos na Universidade de Princeton e na Universidade de Nova Iorque. O seu trabalho académico concentra-se na história da Rússia moderna e nas relações da Rússia com os EUA.


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