À beira do desastre*
«Impõe-se a vigilância face ao perigo duma monumental provocação dos partidários da guerra, que encaram a Humanidade como o ministro da Defesa de Israel, Lieberman, vê os palestinos que massacra: não há civis inocentes na Faixa de Gaza»
AÂ campanha do alegado envenenamento do espião Skripal começou a ruir. Logo deu lugar a nova campanha sobre um suposto ataque com armas quÍmicas do governo sÍrio. São as patranhas do partido da guerra, que abrem caminho a novas agressões, guerras ou mudanças de regime. Vários ministros israelitas, com as mãos manchadas de muito sangue palestino, pedem abertamente um ataque militar dos EUA Í SÍria (Jerusalem Post, 8.4.18). Israel lança mÍsseis cruzeiro sobre aquele paÍs soberano, cujo território dos Montes Golã ocupa há meio século. Trump ameaça, secundado por May e Macron. A parada é hoje perigosÍssima. Há o perigo duma aventura catastrófica, dum confronto directo entre as maiores potências nucleares do planeta, provocado pelo desespero das velhas potências imperialistas perante a sua irresolúvel crise sistémica, a sua decadência e perda de hegemonia económica, polÍtica e militar, e o seu fracasso na SÍria e noutras frentes.
A propaganda nunca precisou de ser racional, nem basear-se em factos. Não tem de explicar por que haveria o governo sÍrio de usar armas quÍmicas Í s portas de Damasco, quando já libertou mais de 90% desse território e negociava a rendição do último reduto. Nem por que haveria Putin de querer assassinar um espião inglês que o governo russo libertou em 2010, usando uma arma quÍmica que poderia ser ligada Í Rússia, em vez duma banal arma de fogo (que, além de menos identificável, seria mais eficaz: o espião e a filha estão afinal vivos). Ou por que, sem razão aparente, escolheria fazê-lo uns dias antes das eleições presidenciais russas nas quais era candidato, e três meses antes do Campeonato do Mundo de Futebol que o seu paÍs irá acolher. Tudo cheira a provocação, montada por quem quer inventar pretextos para a guerra.
O historial de uso de armas quÍmicas pelas potências imperialistas é longo e terrÍvel. Inclui o uso de armas quÍmicas pelos ingleses contra a Rússia bolchevique, no Verão de 1919, a mando de Winston Churchill (The Guardian, 1.9.13). E o uso em larga escala pelos EUA de armas quÍmicas (como o Agente Laranja) nas suas genocidas guerras no Sudeste Asiático. Ainda hoje nascem crianças deformadas, como resultado dos seus efeitos. A actual histeria anglo-americano-israelita sobre o alegado uso de armas quÍmicas é duma hipocrisia sem limites.
O verdadeiro crime do povo e governo sÍrios foi terem resistido com êxito, e com a ajuda dos seus aliados da Rússia, Irão e LÍbano, a mais uma guerra de agressão imperialista. É estarem a libertar a SÍria e a derrotar os tenebrosos bandos de terroristas fundamentalistas que há muitos anos o imperialismo arma e financia, com a ajuda das mais bárbaras ditaduras do Médio Oriente (sempre sustentadas pelas democracias ocidentais) e do Estado sionista que massacra com impunidade o povo mártir da Palestina. Perante a derrota dos serventuários, os mandantes assanham os dentes.
Impõe-se a vigilância face ao perigo duma monumental provocação dos partidários da guerra, que encaram a Humanidade como o ministro da Defesa de Israel, Lieberman, vê os palestinos que massacra: «não há civis inocentes na Faixa de Gaza» (Times of Israel, 8.4.18).
*Este artigo foi publicado no Avante! nº 2315, 12.04.2018
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