Autor: “Demétrio Alves”


A Torre Bela e o mostrengo
A bárbara matança na Torre Bela tem suscitado indignação pública. Mas tem havido cautela mediática em separar esse acontecimento da instalação de uma grande central fotovoltaica na mesma propriedade. O ministro do Ambiente foi o primeiro em empenhar-se em que essa ligação não fosse feita. Mas a questão está no terreno: até os que vieram defender a caça como boia de salvação do mundo rural ficaram descalços, porque o que aparentemente a matança fez foi limpar o terreno de animais de maior porte para o avanço de uma opção energética. Cuja consequência tem sido a da colonização extensíssima do território com fins energéticos, e que pouco ou nada adianta aos problemas do mundo rural.



O negócio do hidrogénio
O governo PS é particularmente fascinado por modas, nomeadamente no que diz respeito à energia e à “transição energética”. Sobretudo quando por detrás dessas modas se perfilam grossos interesses privados apostados na captura de dinheiros públicos. O ministro e o secretário de Estado lançam para o ar números, calendários e perspectivas sem qualquer fundamentação séria. A realidade e o interesse dos consumidores têm para estes governantes mais fugacidade do que o próprio hidrogénio.



Lénine e a electricidade
«Mesmo dando por adquirida a existência de alterações climáticas derivadas das atividades socioeconómicas, e que se considerasse provado cientificamente que tais alterações são lesivas dos interesses e da segurança das sociedades humanas a médio e longo prazos, será que, através das asfixiantes propostas de transição neoliberal feita a mata-cavalos, o bem comum é salvaguardado de forma equitativa em termos mundiais? Na escala de pungentes necessidades humanas é a transição hipocarbónica que tem a prioridade? Por que motivo?»



Descentralização sem regionalização o que é?
A tese enunciada pelo PR de que «se deveria finalizar a descentralização e, só depois, dar passos no sentido da criação das regiões administrativas» acaba por ser uma forma de, defendendo aparentemente a viabilização da regionalização, a liquidar. E de caminho liquidar também a descentralização.



Presidentes com capacidade diminuída
A novela produzida em torno da questão da eventual impossibilidade legal da renovação sucessiva dos presidentes dos órgãos executivos das autarquias locais, para além de três mandatos, está a poucos dias do seu termo, que acontecerá quando o Tribunal Constitucional decidir sobre os diversos recursos que lhe estão sendo apresentados.



A eventual redução de concelhos e freguesias
Uma reforma administrativa séria determinaria, em qualquer país e independentemente do sistema político, muito trabalho, muito debate e, sobretudo, a consciência de que não é coisa que se faça em poucos meses, sem dinheiro e apenas com um lápis, um mapa e uma calculadora.
Ora, o que nós agora temos aí, ditado pela Troika, e porque isso lhe chegou aos ouvidos a partir de fontes nacionais, é a imposição de uma reforma administrativa com incidência, entre muitas outras coisas, no número de concelhos e freguesias, que diminuiriam de forma drástica, por motivos quase exclusivamente orçamentais (diminuição da despesa pública).
