Reflexões de um comunista Italiano
Sobre o Partido Comunista da Grécia (KKE)

Fosco Giannini*    31.May.10    Outros autores

O impacto internacional das grandes lutas dos comunistas gregos tem hoje uma importante consequência: é que ao contrário das teses dos que, não tendo força nos seus países, afirmam que a prioridade é para as lutas globais que depois teriam repercussão nacional o que se vê é que a luta de massas em cada país, se conduzida com uma firme perspectiva de classe, tem necessariamente uma poderosa componente internacionalista.

No dia 2 de julho de 2006, milhares de membros e simpatizantes do Partido Comunista da Grécia (KKE) e da Juventude Comunista da Grécia (KNE) reuniram-se na cidade de Likorakhi, situada no coração da cadeia de montanhas Grammos, para participar da cerimônia de inauguração de um memorial em comemoração aos 60 anos da fundação da Armada Democrática da Grécia (ADG) e homenagear os milhares de militantes que sacrificaram suas vidas em três anos de guerra civil (1946-1949), na luta contra a reação local e o imperialismo anglo-americano.

Como parte dessa pequena homenagem que nosso sítio faz, acertadamente, ao Partido Comunista da Grécia (KKE), gostaria de acrescentar somente algumas pequenas notas: no início dos anos 90, eu fui - enquanto membro do Departamento Político Estrangeiro do PRC e responsável pelas relações com as forças comunistas e a esquerda européias - ao Congresso do KKE, o Congresso consecutivo à cisão de direita do Synapsimos. Foi um Congresso difícil: a cisão do Synapismos, conduzida por Maria Damanaki, sobre as posições filosóficas “occhettiennes” (de Attilo Occhetto, liquidacionista do PCI em 1991) e voltado para a superação da autonomia comunista e a transformação do KKE em um “Partido de Esquerda” (o eterno retorno, pode-se dizer, se permanecemos dentro do espírito helenista e pensando sobre o que acontece há décadas na Itália, de “Bolognina” de Occhetto à conteporânea Vendola e a seus partidários no seio da própria RPC, passando por Bertinotti) havia criado problemas importantes para o KKE que rapidamente é contornado, principalmente devido a um amplo e profundo enraizamento, em particular entre a classe operária e os trabalhadores rurais.

No Congresso, o que me impressionou, entre outras coisas, foi uma frase do camarada Thanassis Papariga (então editor-chefe da Rizospastis, jornal do KKE e grande homem de espírito – que infelizmente faleceu - e marido da secretária geral do KKE, Aleka Papariga) que me disse: “Faz tantos anos que não víamos um camarada italiano que nós pensamos que você fosse uma invenção da CIA”.

De fato, o PCI dos anos 80 (todo ocupado pelo eurocomunismo e, em seguida, pelas relações privilegiadas com as sociais-democracias de Willy Brandt e Olof Palme) teve muito diluídas - como aconteceu posteriormente com o PRC - suas relações com o KKE, considerado, tanto pelo PCI dos últimos anos como pela futura Refundação, demasiado “ortodoxo”, pouco inclinado a inovações (de Occhetto, de Damanaki, Bertinotti …).

Hoje, nós nos confrontamos com um paradoxo (aparente): os partidos do eurocomunismo ou culturalmente provenientes dele (italianos, franceses, espanhóis) que esnobaram e previram um fim iminente para os partidos comunistas ortodoxos “marxistas e leninistas (português e grego principalmente) têm hoje, pouco mais que um sopro de vida, estão à beira da extinção. Enquanto os camaradas gregos, portugueses, chipriotas e tchecos (apesar da “Lustration”) estão indo bem, estão crescendo em termos eleitorais e à frente das lutas anticapitalista e anti-imperialistas (pois a luta travada pelo KKE contra a União Europeia é deste tipo).

Sobre esse aparente paradoxo, ele deverá refletir, sobretudo sobre uma questão central: o abandono e a liquidação do patrimônio teórico, histórico e político do movimento comunista ajuda realmente a reviver uma estratégia anticapitalista e anti-imperialista eficaz e consequente ou ela traz mais o declínio e dissolução da cultura e da prática da esquerda moderada? Comparado com o que a história nos ensina, a resposta parece óbvia…

Também deve ser dito que a capacidade diária de luta do KKE (que, como vemos, obtém rapidamente a simpatia dos jovens, dos trabalhadores e dos movimentos anti-Maastricht, anticapitalista e anti-imperialistas de toda a Europa) não vem do nada, não aparece de repente. Esta capacidade de luta (luta de massas, muito diferente do radicalismo sectário e dos extremismos, que os camaradas gregos rejeitam), o KKE a encontra em sua própria história, uma história marcada pela grande e heróica tentativa revolucionária do pós-guerra (quando o KKE tentou - apesar de Yalta - a tomada revolucionária do poder, pondo a duras provas o exército britânico de ocupação, chegando com os seus partidários armados e suas bandeiras vermelhas, quase tomou o centro do poder, que é Atenas, mas pagando, contudo, um tributo enorme de sangue: 300 mil comunistas mortos na luta revolucionária e de libertação nacional); uma história marcada pela luta corajosa contra os coronéis gregos que, em conluio com o governo norte-americano e com a CIA, conseguiram, em 21 de abril de 1967, seu golpe de Estado e lançou uma repressão antitrabalhista, antipopular e anticomunista; uma história, a dos comunistas gregos, marcada pela resistência - política e teórica - aos profundos movimentos anticomunistas “Gorbachovistas” à deriva, consecutivos ao fracasso da “perestroika” e ao colapso da URSS. Uma história marcada- também nos últimos quinze anos - pelo fato de que o KKE encabeçou grandes lutas trabalhistas e camponesas que ocorreram (aquelas das últimas semanas não são, naturalmente, as primeiras) na Grécia contra as políticas hiper-liberais de Maastricht e contra as guerras imperialistas no Iraque e na Iugoslávia.

Se hoje os camaradas gregos que, depois de ocupar a Acrópole, podem mandar uma mensagem de esperança e de luta para os povos da Europa e podem ser ouvidos por eles; se agora eles podem oferecer a todos os povos e trabalhadores europeus uma leitura da União Europeia bem diferente da visão conciliadora manifestada pela esquerda comunista italiana, e podem dizer – e ser ouvidos - com base em fatos e nas duras condições do povo grego, do “neo-imperialismo europeu”; se eles podem varrer as nuvens da desconfiança que tinham coberto o PCI nos últimos anos – que sentiu o “occhettisme”, do PDS, do PRC e de uma certa “nova esquerda” européia, é porque o KKE resistiu aos anos muito difíceis da contra-revovução consecutiva a 1989, e aos gritos do “transformismo” da esquerda, nesse momento, pelas lutas e autonomia política e cultural, pela sua credibilidade no movimento operário grego e seu enraizamento social.”

* Membro da Direcção Nacional do Partido da Refundação Comunista

Este texto foi publicado em http://pcb.org.br/portal/, dia 28 de Maio de 2010.

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