Colômbia: Estado de Terror em Nome da Paz

James Petras*    18.May.10    Colaboradores

James PetrasNo texto que hoje publicamos, o autor, James Petras, desmascara a polÍ­tica informativa de formatação das mentalidades e de inversão de valores éticos que se generalizou nos media: “A primeira vÍ­tima de um estado de terror é a corrupção da linguagem, a invenção de eufemismos, onde as palavras significam o seu oposto e os slogans ocultam crimes graves.”

Introdução

A primeira vÍ­tima de um estado de terror é a corrupção da linguagem, a invenção de eufemismos, onde as palavras significam o seu oposto e os slogans ocultam crimes graves. Já não há um consenso mundial de condenação dos crimes contra a humanidade. Isto porque os crimes em massa e assassÍ­nios garantem a segurança dos «investidores», porque os Í­ndios são expropriados para que as minas possam ser exploradas, os trabalhadores do petróleo desapareçam de modo que o petróleo possa correr, e a imprensa financeira internacional louva o êxito do «el Presidente» por ter «pacificado o paÍ­s».

Quando os narco-presidentes são abraçados pelos lÍ­deres da América do Norte e da Europa, é evidente que os criminosos se tornam respeitáveis e os respeitáveis passam a ser criminosos.

Mas outras vozes de outras regiões põem na justiça os criminosos de guerra, passados e presentes. Na Argentina, os generais dos desaparecidos têm passado os seus últimos anos por detrás das grades. Em Espanha, no Dubai e noutros lugares foram emitidos mandados de prisão contra comandantes militares israelitas. Tony Blair, cúmplice no genocÍ­dio de Bush no Iraque, foge de ser preso na Malásia pelos seus crimes de guerra. A Colômbia, os Estados Unidos e Israel, estão sós na Assembleia-Geral das Nações Unidas, condenados, mas ainda não estão a ser julgados. Os seus dias de impunidade estão a chegar ao fim. Guerras sem fim, corrupção por toda a parte, extensas falcatruas financeiras - podridão interior - estão a corroer as fachadas exteriores do poder militar.

Escritores e intelectuais têm um papel a desempenhar na aceleração deste processo, expondo as mentiras que sustentam as máquinas da morte.

Continuemos.

Mentiras dos Nossos Tempos

Doutrina de Segurança Democrática (nem democrática nem para segurança pessoal):

A corrupção da linguagem acompanha qualquer grande crime polÍ­tico. A noção de «Segurança Democrática» não é excepção. No actual contexto colombiano, assassinar lÍ­deres de movimentos sociais para garantir a reeleição de um partido de assassinos polÍ­ticos é democrático. «Segurança» é o eufemismo para cemitérios escondidos, de sepulturas não assinaladas, de pessoas sem nome. «Liberdade dos Media» existe quando anuncia solenemente outro «importante triunfo militar»Â…, o assassÍ­nio de camponeses desarmados a trabalhar nas suas terras.

Os economistas são «peritos» quando proclamam que a economia está a crescerÂ… só o povo é que sofre. Os polÍ­ticos são «estadistas» quando declaram que estão «com o povo» - excepto para os 4 milhões expropriados Í  força e os 300.000 membros das famÍ­lias dos mortos e desaparecidos; os mortos e os expropriados estão ainda para apreciar aquele que afirma que «está com o Povo.»

Quando «el Presidente» declara que a guerra é paz, militarização é segurança, desigualdades são justiça social: só aqueles que não conseguem compreender estas Verdades Oficiais é que receiam que lhes batam Í  porta Í  meia-noite.

A Definição Oficial de Terrorista

É uma pessoa ou pessoas que não compreendem que o caminho para a paz é através de biliões gastos em aviões de combate, navios com helicópteros, bases militares e a subcontratação de conselheiros militares e mercenários.

Inimigos das conversações de paz

Segundo o «el Presidente», estes grupos dos direitos humanos que se opõem Í  matança dos adversários e que propõem diálogos em vez de monólogos são os inimigos da paz; só os monólogos asseguram que há só uma «verdade oficial».

O Preço da Prosperidade

Segundo o «el Presidente» e o Fundo Monetário Internacional (FMI), a pobreza, o desemprego e os baixos salários são o preço a pagar pela democracia e a prosperidadeÂ… mas apenas os trabalhadores e os camponeses é que pagam o preço e só os ricos é que prosperam.

Uma Original Definição de Soberania

Segundo o «el Presidente», ceder território a uma potência imperial estrangeira para construir sete bases militares regidas pelas suas própria leis e jurisdição é a nova definição de soberania. Soberania igual a ocupação estrangeira.

Nova Definição de Subversão

Segundo o «el Presidente», acordos humanitários e iniciativas de paz são pretextos para a subversão; os seus defensores sabem imediatamente que serão rejeitados pelo Estado. Em vez disso, desumanizar o inimigo e os defensores da paz, facilitar o bombardeamento das aldeias subversivas, os «verdadeiros» inimigos da paz.

Louvor e Condenação

O que nos diz acerca de um Presidente que é condenado por todos os grupos de direitos humanos e movimentos sociais e louvado por toda a imprensa financeira e instituições militares?

Um Presidente de Recordes Mundiais

Não há qualquer dúvida que o Presidente Uribe deve ser inscrito no Livro dos Recordes Mundiais do Guinness.

Recordes Mundiais

«El Presidente» é apoiado por mais narco-congressistas do que qualquer outro Presidente ou Primeiro Ministro a nÍ­vel mundial (incluindo o Afeganistão).

«El Presidente» dirige a deslocação de mais pessoas (4 milhões de refugiados) no tempo mais curto (8 anos) do que qualquer outro Presidente a nÍ­vel mundial (Israel levou meio século).

«El Presidente» concedeu mais bases militares aos EUA do que todos os presidentes juntos da América Latina. «El Presidente» dirigiu a matança de mais activistas sindicais e lÍ­deres do que qualquer outro lÍ­der mundial (1.500). Por cada morte e expropriação, o Presidente Uribe merece um novo galardão, o Prémio Ignóbil.

Mas ele não está só. Três Presidentes dos EUA, Democratas e Republicanos, Clinton, Bush e Obama concederam biliões de dólares em armamento e centenas de conselheiros para a promoção de 30.000 narco-assassinos dos esquadrões da morte e 300.000 soldados que são os autores das realizações de Uribe nos «recordes mundiais».

É preciso lembrarmo-nos e castigar os crimes passados e presentes contra a humanidade, mas há que ir em frente na procura do diálogo com aqueles que desejem, porque eles são a maioria, que acreditam na paz através da Justiça.

* James Petras, Professor da Universidade de Nova Iorque, é amigo e colaborador de odiario.info.

Tradução de João Manuel Pinheiro

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