A verdade em primeiro lugar
Muitos dos servis jornalistas e comentadores de turno que exultaram com a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Liu Xiaobo e se assanharam contra a análise do significado deste prémio, são os mesmos que cantaram loas Í atribuição, em 2009, deste Prémio a um “senhor da guerra” – Darack Obama.
Não espanta, é para isso que são pagos.
Como nos diz Albano Nunes, “O anticomunismo é intrÍnseco ao capitalismo”.
Eles cumprem apenas a tarefa que lhes está distribuÍda. E fazem-no com toda a liberdade de escreveremÂ… o que o patrão pensa.
O anticomunismo é intrÍnseco ao capitalismo. Uma força que se propõe pôr fim Í exploração do homem pelo homem, acabar com o poder e os privilégios da classe dominante, não pode contar com a neutralidade do capital. Não são por isso de surpreender os silenciamentos, as descriminações, as deformações e ataques de que o PCP é alvo constante na comunicação social. Não nos cansaremos de lutar contra tais práticas antidemocráticas, exercendo e exigindo o cumprimento dos direitos que a Constituição consagra.
Mas somos realistas. A luta de classes existe e o contrário é que seria de surpreender. Mas porquê tanto destempero e tanto ódio vomitado contra o PCP a pretexto da opinião expressa em comunicado do Gabinete de Imprensa sobre o significado polÍtico da atribuição do Prémio Nobel da Paz a Liu Xiaobo?
Porquê tal manobra de diversão e tão sórdida campanha de denegrimento do PCP? A explicação é evidente: pela sua intervenção no plano polÍtico e social o PCP é o grande obstáculo Í polÍtica de direita, a grande força que combate o fatalismo e o conformismo
Quanto ao motivo invocado para a campanha é bem conhecido que o PCP é um partido de uma só cara e que prefere perder votos dizendo a verdade a ganhá-los escondendo-a. E a verdade é que a atribuição deste Prémio Nobel é realmente «inseparável das pressões económicas e polÍticas» sobre a República Popular da China, e a opinião do PCP é a de que essa escolha não tem nada de inocente, antes se insere numa escalada de pressões contra este paÍs que, pense-se o que se pensar sobre a sua polÍtica interna e externa, está a resolver colossais problemas de desenvolvimento económico, social e cultural e desempenha um papel crescente positivo na cena internacional.
Uma tal escalada, que só não vê quem não quer, não pode deixar de causar grande preocupação, tendo em conta o quadro de crise profunda do capitalismo, de agudização das contradições entre grandes potências, de corrida aos armamentos, de multiplicação de focos de tensão e de guerra. Se realmente se quer a Paz a tarefa é trabalhar para o desarmamento em lugar de reforçar a NATO e outros blocos militares agressivos, efectuar manobras militares nas fronteiras marÍtimas da China, armar Taiwan, fomentar o separatismo no Tibete e outras regiões deste imenso paÍs multinacional. E é óbvio que não vão no sentido da Paz pressões como as que têm sido exercidas sobre a China para que escancare Í s multinacionais o seu mercado interno, valorize a sua moeda, aceite normas ambientais que considere incompatÍveis com o seu desenvolvimento, limite as suas relações internacionais.
A quem realmente lute pela Paz não pode deixar de inquietar o tom cada vez mais arrogante e ameaçador com que o imperialismo se dirige aos paÍses que não se vergam ao seu diktat. E a China não é excepção. Ela seria mesmo responsável por problemas planetários que vão de um esgotamento próximo das reservas de hidrocarbonetos a uma eminente catástrofe climática, ou mesmo pela desindustrialização dos EUA, o seu enorme desemprego, a sua colossal dÍvida externa. Artigos como «A China como problema» ( Vital Moreira, Público, 12.10.10, que cinicamente reconhece as «exigências da UE» e as «pressões dos EUA») ou «O que é necessário exigir de Pequim» (Martin Wolf, Financial Times / Le Monde, 12.10.10) são a este respeito significativos.
É esta a verdade em que a instrumentalização do Nobel se inscreve, verdade que não pode nem deve ser ocultada. Nem subestimada pois encerra grandes perigos para a Paz. É bom que o imperialismo não esqueça que depois de muitos anos de humilhação nacional, o povo chinês fez uma grande revolução libertadora e que não é mais possÍvel o regresso aos tempos em que no jardim principal de Xangai e muitos outros locais havia tabuletas que diziam: «proibida a entrada a cães e a chineses».
* Membro do Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português
Este texto foi publicado no Avante nº 1.925 de 21 de Outubro de 2010.
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