Movimento não-alinhado reúne no Irão, desafiando os EUA

Sara Flounders    11.Sep.12    Outros autores

118 paÍ­ses, incluindo 35 chefes de estado e 21 ministros dos estrangeiros, aceitaram o convite do Irão para participar com delegações de alto nÍ­vel no encontro internacional do Movimento Não-alinhado (NAM – Non-Aligned Movement). Trata-se de uma importante derrota para os esforços do governo norte-americano para estrangular economicamente, bloquear militarmente e isolar politicamente o Irão.

Uma reunião em Teerão, com inÍ­cio a 26 de Agosto, coloca numa perspectiva bem clara o declÍ­nio do imperialismo norte-americano a nÍ­vel global e, em especial, no Médio Oriente. As exigências dos EUA e de Israel para um boicote Í  reunião foram ignoradas. Claramente, o domÍ­nio dos EUA está em queda.

Apesar dos esforços do governo norte-americano para estrangular economicamente, bloquear militarmente e isolar politicamente o Irão, 118 paÍ­ses, incluindo 35 chefes de estado e 21 ministros dos estrangeiros, aceitaram o convite para enviar uma delegação de altos representantes para o encontro internacional do Movimento Não-alinhado (NAM – Non-Aligned Movement).
Mais de 7 000 delegados são esperados na que é a 16ª Cimeira do NAM desde os seus começos, em 1961. O seu mandato de três anos na presidência do NAM deu a Teerão uma oportunidade para reforçar a sua posição internacional e mostrar que Washington não conseguiu isolar o Irão.

Os média reportam que os assuntos prioritários desta reunião mundial são a oposição Í s sanções ao Irão impostas pelos EUA e os esforços, por parte dos EUA e da NATO, para derrubar o governo sÍ­rio. Como anfitrião, o Irão prepara a primeira versão da declaração final do encontro. De acordo com as notÍ­cias, o documento irá asseverar o direito do Irão a desenvolver tecnologia nuclear pacÍ­fica, condenar as ameaças de Israel de ataque ao Irão e censurar a ocupação israelita de terras palestinianas.

Mohamed Morsi será o primeiro presidente egÍ­pcio a visitar o Irão desde 1979, altura em que os dois paÍ­ses cortaram relações em sequência da assinatura, pelo Presidente Anwar Sadat, dos Acordos de Camp David, que normalizaram as relações do Egipto com Israel. Isto alinhou o Egipto com Washington, contra a Revolução Iraniana.

O Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que geralmente alinha com a polÍ­tica de Washington, disse que planeava comparecer no encontro. O Primeiro-ministro Israelita Benjamin Netanyahu disse que esta decisão era “um grande erro”.

Victoria Nuland, do Departamento de Estado dos EUA, disse que Teerão era “um local estranho e inapropriado para este encontro” e sublinhou que os EUA consideram o Irão uma ameaça para a região e para o mundo (cf. http://www.state.gov/index.htm, acedido a 16 de Agosto).
O NAM foi fundado em Belgrado, na Jugoslávia, em 1961, e era constituÍ­do principalmente por antigas colónias que, militarmente, não estavam aliadas com os EUA nem com a União Soviética.

Por que razão estão neste momento tantos paÍ­ses e chefes de estado interessados em participar num encontro em Teerão, apesar do desagrado explÍ­cito de Washington?

A pressão dos EUA não pode forçar alianças

As ameaças dos EUA contra o Irão ultrapassam em muito as sanções económicas. Incluem sabotagem da sua infra-estrutura, assassinato dos seus cientistas, rapto de cidadãos, campanhas de desestabilização interna e cerco militar.

As sanções ao Irão e o esforço global para derrubar o governo sÍ­rio são esforços dos EUA para instalar o medo em qualquer outro paÍ­s que procure desenvolver-se independentemente do domÍ­nio corporativo dos EUA. Para reforçar a sua polÍ­tica, Washington usa o elevado nÍ­vel de alavancagem financeira [1] dos Bancos de Wall Street, do FMI e do Banco Mundial, que trabalham com instituições bancárias e financeiras alemãs, inglesas e francesas, e o peso combinado dos paÍ­ses da NATO dominados pelos EUA.

Em Janeiro, legislação do Congresso dos EUA exigia que todos os paÍ­ses do mundo tomassem parte nas sanções económicas e pusessem fim a todas as aquisições de petróleo iraniano. Em Março, os bancos iranianos foram postos fora da SWIFT [2], cuja rede permite transacções financeiras electrónicas.

O dia 1 de Julho deveria ter marcado o corte global nas em todas as vendas de petróleo e transacções bancárias com o Irão. As pressões sobre todos os paÍ­ses que importavam petróleo iraniano subiram de tom, quando os governos dos EUA e europeus ameaçaram tomar medidas contra aqueles que não aplicassem as sanções. Estas medidas deveriam destruir a economia iraniana.

A capacidade das maiores corporações e bancos mundiais para adquirir acções e bloquear todas as transacções económicas ameaça qualquer paÍ­s em desenvolvimento. Mas o sistema capitalista global está em crise e em desordem. As instituições financeiras ocidentais fornecem muito pouco dinheiro para investimento. O Império norte-americano oferece pouco aos paÍ­ses em desenvolvimento e Í s antigas colónias, e exige apoio aos seus planos e objectivos.

Mesmo sob uma perspectiva estritamente comercial, os governos de muitos paÍ­ses sabiam que as sanções não apenas prejudicariam a economia iraniana, mas também as suas próprias economias, através do corte das relações comerciais com a maior e mais estável economia da região.

De imediato, a China, a Rússia, a ͍ndia, o bloco ALBA, na América Latina e mesmo o Paquistão e a Coreia do Sul, anunciaram que não iriam deixar de comprar produtos petrolÍ­feros iranianos. A maioria da população mundial vive nesses paÍ­ses.

O Iraque, o Afeganistão e o Irão

Depois de, por uma década, trazer a guerra e ocupar o Iraque e o Afeganistão com centenas de milhar de tropas, gastando triliões de dólares e destruindo ambos paÍ­ses, Washington ainda se mostra frustrada com as notÍ­cias de acordo com as quais o Iraque e o Afeganistão estão a negociar com o Irão.

O New York Times de 18 de Agosto reportava: “O anúncio, por parte do Presidente Obama, no mês passado, de que estaria a impedir um banco de Bagdad de quaisquer negócios com o sistema bancário norte-americano… [foi] um raro reconhecimento de um problema delicado que a Administração enfrenta num paÍ­s que as tropas dos EUA acabam de deixar: durante meses, o Iraque tem ajudado o Irão a evitar as sanções económicas…”

“As autoridades dos EUA aprenderam que o Governo Iraquiano estava a ajudar os iranianos permitindo-lhes usar o espaço aéreo para levar mantimentos para a SÍ­ria.”

O Iraque é agora um grande consumidor de bens manufacturados iranianos, em parte porque o Iraque praticamente não tem a sua própria indústria. Uma delegação Iraquiana de topo visitou Teerão em Agosto para incrementar relações comerciais.

Cerca de 50% do petróleo do Afeganistão vem do Irão, afirmou o Ministro do Comércio Afegão Anwar al Haq Ahady aos repórteres numa mesa redonda do jornal Washington Post (de acordo com o Huffintgton Post de 9 de Maio).

Entretanto, os comerciantes afegãos demonstraram estar mais que dispostos a trocar dólares por riais iranianos, usados como moeda em muitos locais no Afeganistão Ocidental. Camiões carregados de dinheiro atravessam a fronteira, permitindo ao Irão aumentar as suas reservas de dólares, euros e metais preciosos para estabilizar as suas taxas de câmbio (New York Times, 17 de Agosto).

O Pentágono demonstrou a sua capacidade de arruinar um paÍ­s através de bombardeamento massivo. Mas é incapaz de introduzir qualquer mudança progressista e desenvolvimento.

É claro que os governos de alguns paÍ­ses do MNA têm tido entre si conflitos agudos e contradições. Mas a apreensão de Washington é que, sob a presidência iraniana de três anos, o NAM se possa de novo concentrar no seu princÍ­pio original de promover a independência, a auto-determinação, a soberania territorial e a luta contra a herança do colonialismo e do imperialismo, como pediu Fidel Castro num encontro do NAM em Havana.

Este encontro de Teerão com muitos dos paÍ­ses em desenvolvimento no mundo é um grande desafio aos EUA e Í s potências imperialistas ocidentais e Í  NATO, que dizem falar pela comunidade internacional e pelos direitos humanos ao pedir a mudança de regime, a intervenção armada, zonas de exclusão aérea na SÍ­ria e ameaças de estender a guerra ao Irão.

Notas da tradução:
[1] A alavancagem financeira (no original: “financial leverage”) verifica-se, grosso modo, quando o crescimento do capital de uma empresa se produz através do aumento do nÍ­vel de endividamento.
[2] SWIFT: «Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Globais … (sigla em inglês para Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) é uma sociedade cooperativa internacional, com sede em Bruxelas, fundada em 1973 por 239 bancos de 15 paÍ­ses com o objectivo de criar um canal de comunicação global entre seus participantes, bem como padronizar transacções financeiras internacionais.» (da Wikipédia)

Tradução de André Rodrigues P. da Silva

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