Uma “escola de guerra”*

Filipe Diniz    06.May.15    Colaboradores

Numa altura em que a classe dominante trabalha afanosamente na criação de falsas alternativas ao governo PSD/CDS, a central “sindical” da troika nacional esforça-se também por disfarçar a sua servil cumplicidade com a polÍ­tica de direita. Mas quando os seus dirigentes abrem a boca, o que exprimem é a ideologia do patronato.

Costuma-se dizer que o mundo dá muitas voltas. Mas nem de longe consegue dar tantas voltas como as que o oportunismo dá.
Vem isto a propósito da presença de um pano da UGT, transportado por dezena e meia de “sindicalistas”, no desfile do 25 de Abril em Lisboa. Ao centro do pano Carlos Silva, o homem que foi pedir autorização ao patrão – Ricardo EspÍ­rito Santo Salgado – para ser eleito secretário-geral da prestimosa central amarela.

Que foi fazer um pano da central do 25 de Novembro ao desfile do 25 de Abril? Há várias respostas possÍ­veis. Mas o mais importante é recordar para que serve uma central deste género. O papel que lhe cabe está muito longe de ser apenas o do parceiro “sindical” que subscreve o que o patronato lhe ponha Í  frente. Na luta de classes a traição desempenha um alto papel para o patronato, mas esse papel não é maior do que o da divisão dos trabalhadores e o da desmobilização das lutas. Tão importante para o patronato é Proença subscrever o miserável acordo de concertação de 2012 como Carlos Silva declarar (Janeiro de 2014) que “as greves não resolvem os problemas dos trabalhadores.” Ou (21.04.2015) reproduzir a ideia de que “o recurso Í  greve, o recurso Í s manifestações e Í s concentrações é hoje visto por muita gente como um folclore para os sindicatos justificarem a sua existência”.

Esta gente nunca aprenderá. Mas podÍ­amos aqui deixar-lhes as frases que iniciam três parágrafos de um texto de Lénine: “A greve ensina os operários a compreender em que consiste a força dos patrões e em que consiste a força dos operários [Â…].” “A greve abre os olhos aos operários não só quanto aos capitalistas mas também quanto ao governo e quanto Í s leis.“ [Â…] “Assim, as greves habituam os operários a unirem-se, as greves mostram-lhes que só juntos podem travar a luta contra os capitalistas, as greves ensinam os operários a pensar na luta de toda a classe operária contra a classe dos fabricantes e contra o governo arbitrário e policial [Â…].” As greves são apenas um meio de luta, apenas uma forma do movimento operário. “As greves – conclui Lénine – são uma «escola de guerra» e não a própria guerra”.(VILOE 6T, T1, pp.25-27).
É para deixar os trabalhadores desarmados nessa guerra que a UGT existe.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2161, 30.04.2015

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