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Cuba: Obama continua a pôr condições para levantar o Bloqueio

Os Editores    19.Dic.15    Editores

Publicamos esta entrevista como DOCUMENTO. Para quem possa manter ilusões acerca do que pretendem os EUA com a normalização das suas relações com Cuba, Obama é inteiramente esclarecedor. O mais hipócrita e certamente um dos mais criminosos presidentes dos EUA pretende com a “normalização” atingir os objectivos que o bloqueio não conseguiu alcançar: destruir a revolução cubana, subordinar Cuba ao imperialismo, amarrar de novo o povo cubano Í  dependência e Í  exploração.

Resumen Latinoamericano

Resumen Latinoamericano/ 16 de Dezembro 2015.- O presidente norte-americano mostra quais são as suas intenções (as de sempre) face ao povo e ao governo revolucionário cubano.
Antes que termine o seu mandato, o presidente dos Estados Unidos que restabeleceu relações diplomáticas com Cuba poderia visitar Havana, em 2016. Quase a cumprir-se o primeiro ano desde aquele histórico 17 de Dezembro de 2014, Barack Obama confirmou-o a Yahoo News.
Em tom pragmático, o presidente Obama colocou condições para realizar a sua viagem e para dar um apoio mais directo ao fim do embargo. Em 22 minutos de entrevista, o presidente colocou de novo as suas peças no tabuleiro da negociação:
“ (Â…) Ainda há algumas cosas especÍ­ficas que queremos que o governo cubano faça. Nós poderÍ­amos elaborar algumas apreciações acerca de como se implementa o embargo actualmente e poderÍ­amos apresentar ao Congresso argumentos mais fortes sobre a importância de eliminar o embargo se o governo cubano introduzisse reformas mais substanciais.”
“ (Â…) Estou muito interessado em viajar a Cuba, mas creio que para isso as condições teriam que ser as adequadas. O que disse ao governo cubano é que se efectivamente puder dizer com confiança que vimos alguns progressos na liberdade e nas possibilidades dos cubanos me encantaria realizar a visita como uma forma de destacar esse progresso. Se vemos retrocessos não faz sentido que eu ali vá, não estou interessado em validar o status quo.”
“ (Â…) Creio que se vou, parte do acordo é que possa reunir-me com toda a gente. A propósito, quando estive no Panamá para a Cimeira das Américas e me reuni pela primeira vez frente a frente com o presidente Castro, deixei clara a minha posição de que continuaremos a apoiar o fim das restrições Í  liberdade de expressão.
Parte das negociações que conduziram Í  reabertura da embaixada, por exemplo, basearam-se em que não podÍ­amos ter restrições extraordinárias para o nosso pessoal. Queremos ter a possibilidade de reunir com quem quer que seja e falar com quem quer que seja, falar sobre as nossas diferenças e fazê-lo de uma forma respeitosa.”

Vão ter que acelerar as reformas

Para Barack Obama o processo de normalização entre os dois paÍ­ses “está em marcha”, embora para acelerar requeira acções da parte cubana:
“ (Â…) Há duas áreas onde todavia temos que pressionar mais os cubanos: a libertação dos presos polÍ­ticos (houve libertações, mas alguns deles voltaram também a ser detidos) e as restrições Í  liberdade de expressão e de reunião, que ainda são muitas. Não esperávamos que isso fosse mudar de um dia para outro, mas continuaremos a pressionar para que haja melhorias nesses camposÂ…
(Â…) Creio que onde vamos a ver mais avanços é na área económica, porque creio que em última instância foi isso que motivou o senhor Castro a dar este passo: o reconhecimento de que a sua economia estava num beco sem saÍ­da e que a única forma de sair daÍ­ era estabelecer relações económicas connosco. Mas não vai funcionar se os investidores norte-americanos não podem contratar empregados directamente em Cuba, se as empresas estatais continuam sendo a força económica dominante, se não há uma unificação monetária que funcione eficientemente.
Se eles querem desfrutar de todos os benefÍ­cios da sua reincorporação na economia mundial, então vão ter que acelerar as reformas que fazem falta. Eu creio que o presidente Castro entende isso, mas é cauteloso porque estão preocupados pelo nÍ­vel de confusão que estas mudanças poderiam supor e pela dimensão que poderão assumir.”
́reas para colaborar
“ (Â…) A nossa teoria original – insistiu Obama – não era que Í­amos a ver alterações imediatas nem que o controlo que o regime de Castro exerce ia suavizar-se, mas antes que com o tempo se estabeleceriam as condições para uma transformação substancial. Eu creio que é essa a forma como o Presidente Castro o entende. Creio que vai ser muito cuidadoso. Creio que vão continuar a limitar os direitos humanos de formas que nós consideramos censuráveis, mas isso sucede na nossa relação com a China, com o Vietnam, e com muitos outros paÍ­ses do mundo.”
Um ano depois já há um trabalho realizado, assegurou o Presidente, dando como exemplo a reabertura das embaixadas, o incremento das viagens para Cuba, as visitas de membros do seu gabinete como a Secretaria do Comercio e o da Agricultura, para além da atenuação de restrições para os investimentos norte-americanos em telecomunicações.
“ (Â…) Quanto mais vejam os benefÍ­cios dos investimentos dos Estados Unidos, dos dólares dos turistas norte-americanos movendo-se dentro da economia, das telecomunicações abrindo-se para que os cubanos obtenham informação sem censura, mais assentarão as bases para as mudanças maiores que estão por vir.”
“ (Â…) À medida que se realizem mudanças nas relações entre os dois paÍ­ses creio que é importante que encontremos áreas onde podemos colaborar. Já assinámos acordos sobre questões de navegação e de protecção das áreas marÍ­timas. Creio outro interesse que compartilhamos é o combate ao tráfico de pessoas.”

Raúl Castro por Barack Obama

Solicitado a expor a sua visão do mandatário cubano, Obama afirmou: “ (Â…) A minha impressão dele é que é alguém que passou por muitas etapas. Estamos a falar de um octogenário que tem estado no poder juntamente com o seu irmão desde que eu nasci. Não creio que o homem que foi aos 35 anos seja a mesma pessoa que é com 85. A minha impressão dele é que é alguém que está muito comprometido com o regime actual, que tem reservas relativamente Í  democracia plena – não é um liberal – mas também vejo nele muito pragmatismo.
Nesse sentido não creio que seja um ideólogo, creio que é semelhante a alguns dos reformistas chineses que sob a liderança de Deng Xiaoping iniciaram a mudança no sentido da economia de mercado ao mesmo tempo que se mantiveram agarrados ao modelo de Estado unipartidista. Creio que vai ser cuidadoso relativamente Í  velocidade da abertura. Creio que reconhece as vulnerabilidades dos seus sistemas polÍ­tico e económico. E provavelmente o que quer conseguir é transformar o sistema económico, torná-lo mais produtivo e eficiente e elevar o nÍ­vel de vida sem soltar as rédeas polÍ­ticas. O que nós devemos fazer é apoiar essas reformas económicas porque nos interessa ver o povo cubano beneficiar dessa melhoria do nÍ­vel de vida, mas sem renunciar Í  nossa crença na democracia.
Também creio que Raúl Castro reconhece a necessidade de mudança e em parte a razão do momento em que estas mudanças se produziram é o seu desejo de ajudar a impulsionar essas mudanças antes que ele e o seu irmão morram. Eu creio que ele se vê a si mesmo como alguém que tem a estatura necessária para mudar a sociedade cubana de uma forma que os seus sucessores não vão poder. Evidentemente ninguém tem melhor reputaçãoÂ… um dos ´revolucionários originais´.”

As mudanças que queremos

“ (Â…) A polÍ­tica pode mudar muito rapidamente, na Florida já mudou muito rapidamente. É concebÍ­vel que o Congresso decida tomar alguma medida no ano que vem. Eu tenho argumentado, e vou continuar a dizê-lo, que o embargo pode ter desempenhado um papel nos anos1960, talvez até princÍ­pios dos setenta, mas que ao fim de 50 anos não funcionou, não produziu as mudanças que querÍ­amos. Vamos estar muito melhor se os costumes, as atitudes, e as mentes do povo norte-americano e as companhias norte-americanas estão aÍ­ Í  vista dos cubanos, que eles estejam em contacto diário com eles.
Vamos a ver que tipos de medidas podemos tomar através da via executiva, mas nós também vamos ser selectivos e cautelosos em como avançamos, porque uma parte de nosso objectivo aqui é garantir que estamos a beneficiar o povo cubano. Vai haver alguns sectores da economia onde cremos que se houver alguma modificação do embargo o povo cubano vai beneficiar directamente. Vai haver algumas áreas que poderiam servir para fortalecer os simpatizantes do regime, mas que não vão necessariamente ter um impacto amplo. Foi por isso foi que começamos com as telecomunicações, esse é um exemplo de um sector onde estamos muito confiantes em que quanto mais acesso tenha o povo Í  Internet, mais isso vai ser bom para as perspectivas futuras de Cuba.”
O governo cubano insistiu várias vezes depois do 17D em que está disposto a manter a negociação no respeito pela sua soberania e sem condicionamentos. São condições inamovÍ­veis suas o fim do bloqueou económico contra Cuba, como garantia de uma normalização plena.
Esta postura de um Obama “condiciona também não é novidade. A sua estratégia de avanço tem assentado desde o princÍ­pio em solicitações que implicam mudanças nas polÍ­ticas internas de um paÍ­s soberano, enquanto do outro lado lhe é argumentado que Cuba, o paÍ­s hostilizado durante 50 anos, não lhe pede nada de semelhante.
Ante esta nova manifestação do mesmo ponto, ¿como responderá Havana? Mais de meio dia depois da publicação das declarações de Obama, os media estatais cubanos nada disseram (em atitude de orelhas moucas ou talvez em preparação de outro tipo de respostas). A semana do aniversário depara com novos gestos.

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