Discurso da secretária-geral do Partido Comunista da Grécia
Papariga apela Í  mobilização do povo contra o governo

Aleka Papariga*    12.Dic.08    Outros autores

Aleka Papariga
Publicamos hoje o discurso de Aleka Papariga, secretária–geral do Partido Comunista da Grécia, no comÍ­cio realizado em Atenas no passado dia 8 de Dezembro.

Queridos Camaradas

Ontem, sem nos deixarmos levar pelas paixões mas conscientes e com emoção, ira e indignação, decidimos fazer este protesto militante, devido ao facto de um estudante, sentado na praça, ter sido assinado por um polÍ­cia. A resposta deve ser massiva, polÍ­tica e organizada. A morte de Alexandros Grigoropoulos é um assassÍ­nio, e não é um caso isolado nem acidental. É a crónica de uma morte anunciada pela violência e a repressão estatais, que reconhece o povo como inimigo quando este exige os seus direitos, e odeia a greve, a manifestação, a ocupação ou qualquer forma de luta.

O protagonista deste comÍ­cio é Alexandros, que infelizmente apenas conhecemos no momento da sua morte. Mas esta manifestação também é dedicada a todos os gregos e imigrantes, trabalhadores, Í s vÍ­timas da exploração e da guerra, que têm enfrentado a chantagem e a intimidação. Esta manifestação também é dedicada aos estudantes, liceais e universitários, que são perseguidos por que exigem uma educação pública e gratuita, por que enfrentam a ameaça dos tribunais e da procuradoria que pedem aos seus pais e professores que os espiem e denunciem. Também a dedicamos aos refugiados perseguidos pela violência polÍ­tica e a intervenção militar nos seus paÍ­ses, a todos os refugiados e outros prisioneiros que enfrentaram fisicamente o martÍ­rio provocado pelos oficiais da polÍ­cia.

Dedicamos esta manifestação Í s vÍ­timas da arbitrariedade dos patrões e aos trabalhadores falecidos em acidentes de trabalho. Os acidentes de trabalho também são um assassÍ­nio.

Dedicamos a nossa luta a todos os imigrantes paquistaneses que se converteram em vÍ­timas do mais selvagem sequestro, não por dinheiro mas por pressão polÍ­tica e intimidação.

Todos os trabalhadores, pequenos comerciantes e camponeses pobres devem unir-se ao protesto, mas também tomar posição clara de que têm direito Í  greve, direito a ocupar, direito a qualquer tipo de luta massiva que se decida. Todos são necessários, mais que nunca agora que se prepara um feroz ataque contra os mais populares direitos Í s condições de vida, educação e saúde. Não se pode pactuar, não se pode dialogar com os que são responsáveis por estas medidas e preparam novos projectos impopulares. Não há perdão para os que governaram ontem, e hoje vertem «lágrimas de crocodilo».

Escandaliza-nos que o PASOK [Partido Socialista Grego] e a Nova Democracia [Partido da direita, hoje no Poder, em alternância com o PASOK] tentem responsabilizar-se mutuamente pelas mortes violentas. Não importa se quando governava o PASOK houve mais uma ou duas mortes que agora com a Nova Democracia no governo. O que importa é que utilizam a violência, as práticas legislativas e a chantagem para golpear o movimento popular organizado e o lutador espontâneo.

Quando há violência sobre o lutador, é certo que esta afectará também todos os que não estão interessados na polÍ­tica. A violência não tem limites, tal como a morte não é acidental.

Agora devemos unir as nossas vozes para que as leis que os governos do PASOK e da Nova Democracia (ND) aprovaram sejam abolidas na teoria e na prática:

• As leis antiterroristas da UE.

• A legislação do governo do PASOK sobre o uso de armas pela polÍ­cia que dá poder e margem a uma má utilização.

• A ampliação dos poderes dos Serviços Secretos Nacionais pelo governo da Nova Democracia em 2005.

• O estabelecimento de sistemas de monitorização e câmaras, implementados tanto pelo PASOK como pela Nova Democracia.

• A implicação gradual das Forças Armadas em questões da ordem interna.

• Os acordos com a UE e os EUA.

• A promoção da lei de limitação das manifestações da responsabilidade do PASOK.

• O Tratado de Schengen.

• A utilização da repressão pela polÍ­cia municipal, inclusive com cães, de acordo com o último projecto de lei.

Queridos camaradas e Amigos

Ouvimos ontem controversos comentários de vários jornalistas e diversas personalidades polÍ­ticas. Perante a violência cega dos que vão encapuçados acabam de ver a ira do povo; perdoando todas as acções e ajudando o governo e todo o tipo de governo antipopular a promover e aplicar as suas próprias leis repressivas, bem como as da UE, contra o seu próprio povo, a criar novos corpos repressivos do Estado, legal ou ilegalmente. Ao mesmo tempo tentam manter-se próximos dos lojistas que viram as suas lojas destruÍ­das. Todos estes jornalistas e personagens polÍ­ticos aparecem a apoiar ambas as partes.

Muitos deles elogiam as denominadas forças «antipoder». Perguntamos-lhes directamente se a viúva dum trabalhador assassinado num acidente de trabalho deitar o fogo Í  casa do empresário responsável, o que dirão? Apresentá-la-ão como heroÍ­na ou gritarão que não tem o direito de fazer justiça pelas suas mãos, que há uma legislação e um estado de direito e tudo o mais?

Se os filhos dos trabalhadores que perderam as suas vidas em acidentes de trabalho queimassem as fábricas e as propriedades dos patrões, justificavam-nos? Naturalmente que não.

Chamemos as coisas pelos nomes. O núcleo das chamadas forças «antipoder» é heterogéneo, espontâneo, e está pronto para difamar a luta e o movimento organizado, para aparecer como um substituto simples da luta de classes. Todas estas forças «antipoder» são inofensivas para os que estão interessados em que poder polÍ­tico continue como está, mudando apenas, em certos perÍ­odos, o seu rosto aparência polÍ­tico.

O KKE [Partido Comunista da Grécia] tem uma longa história e forjou-se em todas as formas de luta e na luta de cara aberta, naturalmente sem apoio do status quo e sem qualquer tipo de imunidade prévia. Sabemos como lutar em cada fase e pela via que se mostrar adequada em cada momento.

É por termos esta experiência que apoiamos toda a forma de luta que acelere, dinamize e dê força polÍ­tica ao movimento. Condenamos a Nova Democracia e o PASOK porque cultivam e organizam a violência estatal. Porque fazem como se não vissem que há mecanismos que legitimam a violência contra o povo, que ocultam as dolorosas situações como as daqueles que vivem há muitos anos com as denominadas forças «bem conhecidas-desconhecidas», só para terem pretextos e argumentos.

As forças «bem conhecidas-desconhecidas» tentam perverter o espontaneÍ­smo puro da juventude, o espÍ­rito de vingança pela injustiça que esta sente, lançando-a na direcção oposta do que seria correcto e benéfico. Deixem aos jovens, que transbordam dinamismo criado pelo ódio Í  injustiça, pensar que práticas como a de queimar bancos se tomam por algum tipo de vingança contra os banqueiros e o capital financeiro. Deixem a juventude que quer castigar os culpados considerar que realmente os prejudicam quando queimam carros e lojas de pessoas inocentes.

Sabemos muito bem que muitos destes jovens amadureceram e pensaram com calma. Apontaram contra quem devem, por qualquer meio e sem pena alguma, contra os culpados.

Mas deixemos que todos os que apoiam a integração europeia também pensem seriamente, os que se levantam e dormem com o sonho das urnas, quanto e como estão a contribuir para um efectivo movimento com verborreia antipoder nas pequeno-burguesas «forças antipoder».

Queridos camaradas e amigos

Estes dias poderão dar-nos a oportunidade de uma reconstrução responsável do movimento, agora, antes que seja relativamente pequeno ou demasiado tarde.

O movimento popular significa que cada centro de trabalho, cada escola, cada classe, vizinho, quinta ou pequenas lojas de rua se converta numa fortaleza para a acção. Um movimento baseado na orientação de classe, adequando a sua organização a cada sector da economia, um por todos e todos por um. Um movimento na generalidade não emancipado do poder, mas concretamente emancipado do poder dos monopólios e dos compromissos imperialistas.

Ninguém pode perder-se nem ausentar-se das grandes manifestações de amanhã para uma vitoriosa greve a 100% na próxima quarta-feira.

Teremos lutas amanhã e nos dias seguintesÂ…

* Secretária-Geral do Partido Comunista da Grécia

Este discurso foi pronunciado num grande comÍ­cio do PCG, no passado dia 8 de Dezembro, evocando o assassÍ­nio do jovem Alexandros Grigoropoulos

TÍ­tulo da responsabilidade de odiario.info

Tradução de José Paulo Gascão a partir do texto em espanhol.

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