Nota dos Editores

Um gigantesco abalo numa União Europeia em crise

Os Editores    24.Jun.16    Editores

A Grã-Bretanha votou de forma inequÍ­voca pela saÍ­da da UE. Mas se a opção “Brexit” foi clara, é ainda muito cedo para retirar conclusões acerca do significado profundo deste importantÍ­ssimo acontecimento, cujas repercussões futuras provocarão um profundo abalo na UE.

E será necessário repetir o que é efectivamente esta UE: a “Europa” do capital monopolista, inimiga dos direitos dos trabalhadores e da soberania dos povos, imperialista, neocolonialista, pilar “europeu” das agressões militares e dos planos de guerra da NATO. A UE de um capitalismo afundado na crise, cujas contradições internas não cessam de se agudizar.
Pela primeira vez um paÍ­s soberano pronunciou-se sobre a saÍ­da da UE. E a importância que o grande capital transnacional atribuÍ­a ao voto pela permanência fica bem clara se lembrarmos que, de Obama a Hollande, de Merkel a George Soros, do FMI Í  OCDE, não houve figura ou instituição central do sistema capitalista global que não interviesse na campanha. Nesse sentido, é também o que essas entidades significam que sofreu uma pesada derrota.
David Cameron, que se aventurou na convocação do referendo para negociar com a UE em posição de força - e com isso conseguiu no inÍ­cio deste ano um acordo especial particularmente retrógado - demitiu-se, depois de uma campanha em que recuou em toda a linha. O reaccionário Boris Johnson, que fez campanha pela saÍ­da, veio já dizer que não há pressa em sair. A comissão europeia respondeu-lhe de imediato que quanto mais depressa saia, menor será a “incerteza”.

Os grandes media internacionais promoveram uma campanha verdadeiramente terrorista acerca das “devastadoras consequências”, nacionais e internacionais, que o Brexit teria. Os grandes media portugueses intervieram activamente nessa linha. O grande capital não permite que qualquer debate sobre a UE não seja de imediato inquinado. Mas é significativo do beco sem saÍ­da em que a UE se encontra que só lhe seja possÍ­vel utilizar argumentos negativos, do “colapso económico” Í  “ameaça terrorista”.

A história da UE é a de desrespeito pelo resultado de qualquer referendo que lhe seja desfavorável, o que significa que este processo está longe de ter ficado encerrado. Mas o que a UE, nas actuais condições, dificilmente poderá conter é o generalizado descontentamento e insatisfação perante a situação existente. Descontentamento que está longe de identificar com acerto as suas causas, e que por esse facto envolve graves riscos. Mas que contém também um valioso potencial, se a luta dos trabalhadores e dos povos lhe der o sentido da ruptura com um sistema apodrecido e sem saÍ­da.


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