A Venezuela que não será vista nas televisões

Simon de Beer    15.Ago.18    Outros autores

Um belga faz uma viagem turÍ­stica Í  Venezuela. Mas o estado de espÍ­rito de férias não o torna indiferente a uma realidade bem diferente da que os grandes media querem fazer passar. Abre os olhos e ouvidos para conhecer as pessoas num paÍ­s que está a mudar, atravessando grandes dificuldades económicas e a constante ingerência e ameaça do imperialismo e dos seus cúmplices. Uma Venezuela tão livre que, num sector inteiramente privado como o do turismo, os guias turÍ­sticos têm carta-branca para mentir sobre o seu próprio paÍ­s.

Primeira observação: as conquistas da revolução bolivariana são impressionantes
Falamos muito pouco e é uma pena. Na menor aldeia remota há uma escola pública totalmente gratuita (equipamentos e refeições incluÍ­das para crianças). O analfabetismo foi erradicado e a Venezuela é actualmente o quinto paÍ­s do mundo com a maior taxa de académicos. Em todos os lugares as pessoas usam orgulhosamente o fichário colorido da Venezuela, recebido na escola ou na universidade.
Um sistema de saúde - totalmente gratuito - cobre todo o paÍ­s. Em uma pequena ilha de 2000 habitantes onde passamos alguns dias, há um mini-hospital, com dentista, ginecologista e até um pequeno laboratório. “Todo cuidado é gratuito “, lê-se em seis idiomas na entrada. Tendo ambos contraÍ­do um vÍ­rus perigoso, fomos recebidos a um domingo, sem marcação e sem esperar, e sem pagar um centavo apesar de sermos estrangeiros. “Na Venezuela a saúde é um direito garantido constitucionalmente “, explicou orgulhosamente a enfermeira que cuidou de nós.
Caracas, a capital, tem um metro moderno e… gratuito (uma boa lição para aqueles que afirmam que tornar mais barato o transporte público em Bruxelas é impossÍ­vel). Centenas de milhares de unidades de habitação social foram lá construÍ­das. Favelas inteiras foram literalmente transformadas em moradias. Pudemos visitar um bairro totalmente novo, inaugurado no ano passado. Em todo o paÍ­s, estamos a falar de 2 milhões de novos lares desde 2012.
A nÍ­vel democrático, também foram feitos grandes progressos. As pessoas reapropriam-se literalmente da polÍ­tica. Comités de vizinhança foram criados em todos os lugares para lidar com questões locais. As pessoas estão sempre satisfeitas em discutir polÍ­tica. “Antes de Chávez, vivÍ­amos numa democracia de fachada “, explicou um taxista. Antes de acrescentar: “Mas também tem que conversar com outras pessoas, para formar a sua própria opinião.”
Os nativos deixaram de ser considerados cidadãos de segunda classe.” Chávez trouxe-nos o direito ao trabalho e o direito Í  educação “, disse um membro de uma comunidade indÍ­gena na região de Canaima. ” Antes, simplesmente não tÍ­nhamos qualquer direito.”

As pessoas estão a passar por uma crise muito difÍ­cil
Graças Í  polÍ­tica social do governo, Í s lojas sociais, Í s cantinas, Í  medicina gratuita, etc., as pessoas não vivem na miséria e não morrem de fome, como regularmente lemos nos nossos meios de comunicação (esse é o caso em outros paÍ­ses da América Latina). No entanto, não podemos negar que os tempos são difÍ­ceis. O poder de compra é consideravelmente limitado. Os preços estão a subir constantemente e a moeda está a perder valor apesar dos aumentos salariais regulares. Que é uma dor de cabeça real de base quotidiana.
A origem desse problema vem dos grandes grupos privados, que ainda controlam a maior parte da economia, e que durante quatro anos travaram uma guerra económica muito dura contra a Venezuela. Um pouco como foi o caso em 1973 contra o Chile de Allende.
Isso também se deve ao facto de a economia da Venezuela continuar muito dependente do petróleo e estar a lutar para desenvolver um sector produtivo nacional e independente. Este é obviamente um dos grandes desafios do governo.
Como resultado, mesmo que o actual presidente Maduro continue a ser muito popular - como as últimas eleições mostram - uma parte do povo é seduzida pelo discurso da oposição de direita, que está a surfar um certo nÍ­vel de descontentamento e espera voltar ao poder.

E a então a oposição?
Muitas vezes ouvimos nos nossos media que a Venezuela é uma ditadura, onde a oposição é amordaçada. Algumas horas no local provam directamente o contrário. 90% dos canais de TV estão nas mãos da oposição. Todos os dias há crÍ­ticas ao governo. As pessoas expressam-se livremente (gostam de discutir, quaisquer que sejam as suas opiniões). Os circuitos turÍ­sticos são amplamente dominados pela oposição. E não hesitam em dizer-vos todo o mal que pensam de Chávez e Maduro, com uma má-fé por vezes desconcertante.
Alguns pequenos trechos seleccionados das nossas conversas:
” Antes vivÍ­amos num bairro apenas com pessoas decentes, bem-educadas. Mas o governo construiu habitações sociais e agora há pessoas pobres no bairro. Nós deixámos de estar seguros. Se o governo pedir, eles atacar-nos-ão Í  pedrada. Veja como penduram as suas roupas nas janelas! Não são civilizados. ”
“Antes vivÍ­amos num paÍ­s com valores. Houve meritocracia. Hoje todos podem ir para a universidade e ter um emprego. O resultado é o nivelamento por baixo. ”
” Antes de Chávez, vivÍ­amos bem. Encontrávamos tudo o que querÍ­amos nas lojas. Podia escolher-se entre 10 marcas para cada produto. O paÍ­s não conhecia a crise.”
NB: antes de Chávez, havia uma taxa de pobreza de 80% … Essa taxa caiu para 26% em 2014 (antes da crise actual).
Em suma, o que está a acontecer na Venezuela não é sobre “democracia”, como lemos nos nossos media. A grande maioria das pessoas nunca desfrutou de tanta liberdade como hoje (polÍ­tica, educacional, social e económica, cultural e outras).
O que está a acontecer na Venezuela é um conflito entre duas categorias sociais opostas: as pessoas de um lado, os privilegiados ricos do outro lado.
As pessoas que tentam levantar a cabeça depois de décadas de miséria, procurando o seu próprio caminho para o progresso social. Os ricos, apoiados por multinacionais estrangeiras e pelos Estados Unidos, que se recusam a ver fugir os seus velhos privilégios. Eles não suportam ver a riqueza colossal da Venezuela entrar em programas sociais em vez de no seu bolso. E estão prontos para fazer seja o que for para derrubar o governo.
Pela minha parte, sem idealização, a Venezuela continua sendo uma inspiração para aqueles que repetem incansavelmente que não podemos investir em habitação social, desenvolver o transporte público ou baixar os custos de educação e formação e da medicina. Embora nem tudo seja perfeito, a Venezuela mostra-nos Í  sua maneira que outras escolhas são possÍ­veis. E por isso mesmo, merece a pena fazer um desvio e passar por esse paÍ­s.

Fonte: https://www.investigaction.net/fr/venezuela-ce-quon-ne-verra-pas-a-la-television/

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