Autor: “Gustavo Carneiro”
Ameaça e espantalho
O Chega, para além do que representa em si mesmo, serve outros propósitos, nem sempre claros. Para além do selo «de esquerda» que ajudou a conferir ao PS, e que terá contribuído para a maioria absoluta de 2022, concorre também para branquear o projecto que PSD e CDS têm para o País, que é mais parecido com o seu (e o da IL) do que pode parecer. É o que foi implementado nos anos negros da troika, e que só não foi mais longe porque a luta o interrompeu. O Chega é ameaça, mas também é espantalho, e é necessária toda a vigilância perante as diferentes faces de uma mesma política.
A solução e os engodos
A “solução dos dois Estados” e a consequente criação do Estado da Palestina é há muito falada. Por responsabilidade do Estado sionista e dos seus apoiantes (em particular EUA e GB), ficou cada vez mais distante. Agora aparecem a defendê-lo vários dos que o têm inviabilizado. Não nos deixemos enganar: há quem se refira a essa solução apenas para confundir ou para procurar limpar a face por uma longa cumplicidade com os crimes que (há décadas e não só há meses) Israel comete contra os palestinianos.
O heroÍsmo, as lições e o legado do 18 de Janeiro de 1934
«Há acontecimentos que o tempo não apaga. O levantamento operário de 18 de Janeiro de 1934 – faz agora precisamente 90 anos – é sem dúvida um deles. Desde logo pelo que significou de acção revolucionária ousada e corajosa contra o fascismo». O 25 de Abril também se fez daquele Janeiro.
Os donos-disto-tudo e nós
Escreve a Forbes que as 50 famÍlias mais ricas de Portugal detêm, juntas, um «património empresarial de quase 40 mil milhões de euros, o que corresponde a 16,5% do PIB nacional». Em 2022 situava-se nos 242,3 mil milhões de euros. As 10 primeiras da lista – encabeçada pelas famÍlias Amorim (Galp e Corticeira Amorim), Soares dos Santos (Jerónimo Martins/Pingo Doce), Guimarães de Mello (Grupo José de Mello) e Azevedo (Sonae/Continente) – reservam para si «uma fatia de 20,3 mil milhões de euros», ou seja, praticamente metade do total acumulado pelas 50 mais ricas. O caso destas primeiras quatro é particularmente revelador: actuam em diversos ramos industriais, na saúde, na energia e na grande distribuição. Sectores que associam Í exploração do trabalho os ganhos com o brutal acréscimo das dificuldades das camadas populares. Lucros obscenos para uns, dificuldades crescentes para a maioria.
À direita da esquerda
«Fixemos uma separação o mais clara que nos for possÍvel entre esquerda e direita, que não se fique pela forma e pelas aparências, mas que atente nos conteúdos. E que, para lá de declarações mais ou menos inflamadas, se centre nas opções e sobretudo em quem delas beneficia: uma Ínfima minoria de poderosos, no caso da direita; a grande maioria que vive do seu trabalho, se for a esquerda.»
Mantras
São variadas e não poucas vezes sofisticadas as técnicas de manipulação da informação.
Uma delas reside na repetição exaustiva de expressões e ideias (pouco rigorosas, confusas, falsas), autênticos mantras que enquadram notÍcias, reportagens, entrevistas e comentários. O massacre em curso na Faixa de Gaza oferece-nos, a este respeito, reveladores exemplos.
Maioria silenciada
Todos dias chegam órgãos de comunicação social dezenas de comunicados de sindicatos, denunciando ilegalidades, apresentando reivindicações, convocando lutas. Em grandes superfÍcies, em outros serviços, em sectores da indústria. No sector público e no sector privado. Mas não chegam a ser noticiados. São coisas de quem trabalha, a maioria do paÍs. Mas essa maioria é silenciada na comunicação social dominante.