John Pilger: “fiz este filme para romper o silêncio sobre a guerra nuclear”

Investigaction.net    06.Dic.16    Outros autores

Vai nestes dias ser estreado em vários paÍ­ses europeus o novo filme de John Pilger “A próxima guerra contra a China”. Trata-se de uma nova denúncia das duas guerras que os EUA empreendem: a guerra da propaganda, já em curso, e a agressão militar, cujas peças estão já no terreno.

John Pilger fez durante dez anos a cobertura da guerra de Vietnam, quando era ainda um jovem jornalista. Tem desde então frequentemente denunciado o que ocultavam os numerosos conflitos ocorridos e tornou-se um dos mais fiáveis analistas em termos de polÍ­tica internacional, bem como um cineasta talentoso. Como inimigo jurado da guerra de propaganda, saudou a acção dos lançadores de alertas que expuseram os terrÍ­veis abusos dos Governos ocidentais cometidos com o silêncio cúmplice e por vezes inclusivamente com o apoio dos grandes meios de comunicação. Nesta entrevista exclusiva que concedeu a Investig'Action, John Pilger fala-nos do seu novo filme “A próxima guerra contra a China”. Alerta-nos também sobre os perigos actuais do desencadear de uma guerra nuclear que ameaçaria toda a Humanidade.

Sr. John Pilger, em 5 de Dezembro será projectado pela primeira vez no Reino Unido o seu novo filme “A próxima guerra contra a China”. ¿Pode falar-nos dele?

O filme “A próxima guerra contra a China” descreve o reforço massivo das forças aéreas e navais norte-americanas na Asia e no PacÍ­fico, cujo único ponto de mira é a China.

O filme trata tanto da propaganda como da provocação militar. As “informações” dizem-nos que a China ameaça a paz na região construindo pistas de aterragem sobre ilhas situadas no Mar da China meridional, enquanto por outro lado nos ocultam o facto de que os Estados Unidos cercaram a China com 400 bases militares (equipadas com misseis, aviões e navios de guerra). É aquilo que um perito em estratégia chamou “o perfeito nó corrediço”.

O filme começa nas Ilhas Marshall, onde todos os dias e durante 12 anos foi ensaiada uma bomba similar Í  lançada sobre Hiroxima. Este filme desvenda um programa secreto (o projecto 4.1) que transformou todo um povo em “porquinhos-da-͍ndia”. Os EUA construÍ­ram aÍ­ uma das suas bases mais secretas, que supervisiona uma zona que vai do PacÍ­fico até Í  China.

¿Porque fazer agora este filme?

O filme “A próxima guerra contra a China” tem como propósito romper o silêncio sobre a guerra nuclear. Segundo especialistas militares, a guerra nuclear já não é inimaginável, mas “uma eventualidade”.

O filme descreve uma nova “guerra fria”, na cual as “linhas da frente” não são tão facilmente identificáveis como na época da antiga guerra fria, e os riscos e perigos são mais importantes.

Tal como a China, a Rússia parece ser um alvo principal. ¿ Que pensa da decisão dos juÍ­zes britânicos de cancelar as contas bancarias da agência Russia Today ? ¿ E da recente resolução do Parlamento Europeu contra os meios de comunicação russos, que equipara a sua linha editorial a propaganda terrorista?

Parece que a decisão de cancelar as contas de Russia Today veio dos bancos, pelo temor de poderem estar sujeitos a multas por “violação das sanções contra a Rússia”. Contudo, a RT foi há pouco informada que a decisão estava ainda em discussão e que não havia nenhuma ameaça imediata sobre as suas contas. Ambos episódios fazem parte da histeria anti-Russia fomentada pelas administrações de Obama e da União Europeia.

Ha pouco declarou que “já começou uma Guerra Mundial” e que “…é uma guerra de propaganda”. ¿Que podem as pessoas fazer para actuar no campo de batalha da informação?

O que as pessoas deveriam fazer seria reunir-se num grande movimento que exija aos seus Governos que parem de saquear e atacar outros paÍ­ses. Não devem, do mesmo modo, deixar-se distrair pelas polÍ­ticas de introspecção (“identitárias”) nem pelas falsas realidades fomentadas pelos meios de comunicação, que não são outra coisa senão extensões do poder belicista selvagem de Washington, Paris, Bruxelas e Londres.

A eleição de Trump suscitou um vivo debate nos EUA e na Europa. Inclusivamente, alguns analistas de esquerda saudaram a vontade de Trump de querer “apaziguar” as relações com a Rússia. ¿ compartilha deste optimismo?

A palavra “apaziguamento” é um termo sobretudo utilizado na propaganda da “Guerra fria” depois da segunda guerra mundial. Na realidade, o que há é outra forma de apaziguamento: demasiada gente na Europa e nos EE.UU fica calada ante as perigosas agressões exteriores dos seus Governos.

Quando ocorreram as atrocidades de Paris no ano passado, o Presidente Hollande enviou aviões de guerra bombardear a SÍ­ria. E isso, ¿com que consequências? Sem dúvida, com as de fomentar outras atrocidades.

¿Trump poderia ser algo menos belicista que Clinton?
Não deverÍ­amos preocupar-nos com quem faz a paz entre Rússia e Europa, o importante é que se chegue Í  paz. A alternativa é a guerra, e possivelmente a guerra nuclear.

Muitas pessoas temem que se venha a assistir a um “sismo polÍ­tico” similar em outros paÍ­ses como a França, onde o Front National poderia aceder ao Eliseu em 2017…
Se o Front National chegasse Í  Presidência da República em 2017, ¿quem será plenamente culpável? Os liberais…a gente a quem frequentemente se chama “a esquerda”. Deveriam talvez ver-se ao espelho os que foram incapazes de fomentar um movimento duradouro que se opusesse tanto Í  austeridade como Í  agressividade exterior do seu Governo.

A LÍ­bia foi destruÍ­da pelos bombardeamentos de Sarkozy, Clinton e Cameron. Com Kadhafi eliminado e com o saque do Estado moderno LÍ­bio, as armas fluÍ­ram em direcção ao Sul.

Este belicismo estúpido tal como a destruição deliberada da LÍ­bia abriram as portas a uma avalancha de emigrantes e refugiados vindos de ́frica. A suposta “crise migratória” na Europa é a consequência directa das invasões do Ocidente sobre sociedades tribais frágeis.
E ¿ quem se opôs então a toda esta violência entre os que hoje se escandalizam a propósito de Trump e de Le Pen?

Fonte: Investigaction.net
- Ver mais em: http://www.investigaction.net/es/john-pilger-he-hecho-esta-pelicula-para-romper-el-silencio-sobre-la-guerra-nuclear/#sthash.bP5xxtD9.dpuf

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