Mentira e desinformação: a passadeira vermelha para o fascismo que espreita

André Solha    06.Abr.20    Outros autores

Quanto mais se agrava o impacto da pandemia no «ocidente», e mais ficam a nu as debilidades dos respectivos serviços de saúde (para além da irresponsabilidade – em vários casos criminosa – de muitos dos seus dirigentes), mais se intensifica a mentirosa campanha contra a RPC. Em vários casos sem qualquer disfarce: órgãos de «informação» citam a CIA como fonte.

(Nota: Este texto não pretende ser uma defesa do governo chinês ou do PCC. Para isso existirão outras ocasiões. Fiz um esforço de reunir informação apenas de fontes insuspeitas de simpatias chinesas ou comunistas como forma de desmontar a campanha de desinformação entretanto lançada.)

Sérvia. Filipinas. República Checa. Camboja. Itália. Rússia. Espanha. Portugal. Venezuela. Palestina. Libéria. França. Bélgica. Irão. Iraque. Vietname. Etiópia. Portugal. Estados Unidos da América. Todos os paÍ­ses desta lista, que não pretende ser exaustiva - são já mais de 90 os paÍ­ses apoiados - e resulta duma leitura breve da imprensa internacional, receberam nos últimos tempos apoio material e humano da China: Ventiladores. Fatos protectores. Máscaras. Medicamentos. Médicos.

E ainda assim, cresce a narrativa de que o estado chinês é, se não o criador do vÍ­rus, pelo menos o responsável pela sua dispersão pelo mundo por ter sido incapaz de conter o surto na sua fase inicial. Diz-se até que tentaram abafar o caso e não avisaram atempadamente o resto do mundo. Olhemos então para a cronologia do surto:

- No dia 31 de Dezembro a China alertou a OMS que tinha em mãos vários casos duma pneumonia invulgar de origem desconhecida;

- A 9 de Janeiro o Centro Chinês para o Controlo e Prevenção de Doenças anunciou que tinha identificado um novo coronavÍ­rus - COVID-19 - como sendo o agente responsável pelo surto;

- A 21 de Janeiro é detectado o primeiro caso nos EUA, um cidadão norte-americano que tinha regressado recentemente de Wuhan e foi hospitalizado em Seattle. Neste dia as autoridades chinesas começam a fazer o controlo de viajantes;

- A 22 de Janeiro são cancelados todos os vôos e comboios de e para a região de Wuhan;

- A 23 de Janeiro, a China coloca três cidades em quarentena e cancela as comemorações do Ano Novo Lunar. Neste mesmo dia, a OMS afirma que o surto que já contagiou centenas de pessoas não é ainda motivo de emergência global;

- A 30 de Janeiro a OMS finalmente considera o surto uma o emergência global;

- A 15 de Fevereiro, o Director Geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirma que “as medidas que a China adoptou para conter o surto na sua origem ganharam tempo ao mundo”;

- A 16 de Fevereiro são detectados 16 casos na Lombardia, em Itália. No dia seguinte, são já 60;

- A 8 de Março o governo italiano decreta uma quarentena regional;

- A 11 de Março a OMS declara que o surto de COVID-19 é uma pandemia global;

- A 14 de Março, os governos franceses, espanhóis decretam o encerramento de vários espaços públicos e outras medidas de quarentena;

- A 19 de Março, a Itália ultrapassa a China em número de mortes relacionadas com o COVID-19.

E partir daqui o cenário já é suficientemente recente para dispensar um relato.

De acordo com esta cronologia e as declarações do Director Geral da OMS, não só a actuação das autoridades chinesas não foi laxista, como foi essa actuação que ganhou tempo para que o resto do mundo se preparasse para enfrentar a pandemia.

Porquê então esta narrativa de culpabilização dos chineses ou do seu governo?

Donald Trump chama-lhe o vÍ­rus chinês. No Sol, João Lemos Esteves chama-lhe mesmo “o vÍ­rus do Partido Comunista Chinês”. O neonazi Mário Machado faz um vÍ­deo a imputar a origem do vÍ­rus aos “deploráveis” hábitos alimentares dos chineses. Nada disto é ao acaso; como podemos ler numa informação confidencial divulgada pelo Daily Beast, está em curso uma campanha de desinformação lançada pela Casa Branca de culpabilização do governo chinês como forma de ilibar a sua resposta tardia e insuficiente. Esta narrativa tem sido adoptada pela imprensa e dado frutos e já é para muitos ponto assente, mesmo para muitos na chamada “esquerda”, que fazem agora coro com o neonazi culpando os chineses pelos seus hábitos alimentares, justificando-o com vÍ­deos do YouTube. Usam a informação de que o vÍ­rus tem origem zoonótica para sustentar essa afirmação, ignorando que devido Í  espécie humana ser muito recente em termos biológicos, muitas das doenças que nos afectam já cá andavam antes de nós. Sim, o COVID-19 é de origem zoonótica, mas também o Ébola, a salmonela, muitas gripes, a raiva, para não mencionar uma série de parasitas. 61% dos agentes patogénicos que infectam humanos têm origem zoonótica.

E se esta narrativa ganha fôlego, deve-o Í  tradicional sinofobia ocidental e a um anti-comunismo primário que é também useiro e vezeiro no Ocidente. No inÍ­cio do séc XX, o sentimento anti-comunista foi exacerbado nos EUA, na Alemanha ou no Reino Unido como forma de reprimir os trabalhadores e a sua luta pela superação do capitalismo. O mesmo no pós Segunda Guerra e em todo o perÍ­odo de Guerra Fria. Em Portugal, com especial incidência no Norte do paÍ­s e nas regiões autónomas, homens do antigo regime, a Igreja Católica e terroristas de extrema-direita (alguns dos quais encontraram depois poleiro no PSD e no CDS, cumpridos que estavam os seus objectivos), assustaram o povo com relatos ignóbeis dos comunistas que aÍ­ vinham para lhes tirar as terras e os filhos. No Brasil, Bolsonaro fez-se eleger com a cartilha anti-”marxismo cultural”.

E agora em Portugal, a reboque do Estado de Emergência, depois de primeiramente ter sido condicionado o direito de greve, de manifestação e de resistência, vem agora um segundo decreto reforçar esse ataque aos direitos dos trabalhadores, com a seguinte declaração:
“Fica suspenso o direito das comissões de trabalhadores, associações sindicais e associações de empregadores de participação na elaboração da legislação do trabalho, na medida em que o exercÍ­cio de tal direito possa representar demora na entrada em vigor de medidas legislativas urgentes para os efeitos previstos neste Decreto.” Está aqui: o estado burguês entende que os sindicatos são um estorvo, e pretende desta forma silenciá-los. Numa altura em que os trabalhadores sofrem um brutal ataque aos seus direitos e ao seu sustento, vêm-se privados de poder defendê-los quer nas ruas, quer na mesa de negociações. Tudo com o beneplácito de Marcelo, Costa e Rio, que ensaiam assim a reorganização do poder rumo a um Bloco Central de “salvação nacional”.

Como diria o Brecht, coberto de razão, “não há nada mais parecido com um fascista do que um burguês assustado”. Diria ainda o Brecht que “O fascismo é uma fase histórica do capitalismo; neste sentido, é algo novo e ao mesmo tempo antigo. Nos paÍ­ses fascistas, o capitalismo continua a existir, mas apenas na forma de fascismo; e o fascismo apenas pode ser combatido como capitalismo, como a forma de capitalismo mais nua, sem vergonha, mais opressiva e mais traiçoeira.”

Já todos percebemos que vêm aÍ­ tempos difÍ­ceis. Que depois de lutarmos contra o COVID-19, vamos ter de lutar contra a austeridade, contra a repressão. Alguns direitos que até agora nos pareciam impossÍ­veis estão agora em vigor a tÍ­tulo provisório, provando que afinal sempre foram possÍ­veis, e quando tudo isto terminar não vamos querer abrir mão deles. E para nos forçar a abdicar deles, cá temos o Estado burguês a muscular-se, para no-los tirar Í  força e a sangue se necessário.

Haja greve. Haja manifestação. Haja resistência. Porque mesmo sendo ilegal, será sempre justa.
Fonte: https://manifesto74.blogspot.com/2020/04Quanto mais se agrava o impacto da pandemia no «ocidente», e mais ficam a nu as debilidades dos respectivos serviços de saúde (para além da irresponsabilidade – em vários casos criminosa – de muitos dos seus dirigentes), mais se intensifica a mentirosa campanha contra a RPC. Em vários casos sem qualquer disfarce: órgãos de «informação» citam a CIA como fonte.

Mentira e desinformação: a passadeira vermelha para o fascismo que espreita
André Solha

(Nota: Este texto não pretende ser uma defesa do governo chinês ou do PCC. Para isso existirão outras ocasiões. Fiz um esforço de reunir informação apenas de fontes insuspeitas de simpatias chinesas ou comunistas como forma de desmontar a campanha de desinformação entretanto lançada.)

Sérvia. Filipinas. República Checa. Camboja. Itália. Rússia. Espanha. Portugal. Venezuela. Palestina. Libéria. França. Bélgica. Irão. Iraque. Vietname. Etiópia. Portugal. Estados Unidos da América. Todos os paÍ­ses desta lista, que não pretende ser exaustiva - são já mais de 90 os paÍ­ses apoiados - e resulta duma leitura breve da imprensa internacional, receberam nos últimos tempos apoio material e humano da China: Ventiladores. Fatos protectores. Máscaras. Medicamentos. Médicos.

E ainda assim, cresce a narrativa de que o estado chinês é, se não o criador do vÍ­rus, pelo menos o responsável pela sua dispersão pelo mundo por ter sido incapaz de conter o surto na sua fase inicial. Diz-se até que tentaram abafar o caso e não avisaram atempadamente o resto do mundo. Olhemos então para a cronologia do surto:

- No dia 31 de Dezembro a China alertou a OMS que tinha em mãos vários casos duma pneumonia invulgar de origem desconhecida;

- A 9 de Janeiro o Centro Chinês para o Controlo e Prevenção de Doenças anunciou que tinha identificado um novo coronavÍ­rus - COVID-19 - como sendo o agente responsável pelo surto;

- A 21 de Janeiro é detectado o primeiro caso nos EUA, um cidadão norte-americano que tinha regressado recentemente de Wuhan e foi hospitalizado em Seattle. Neste dia as autoridades chinesas começam a fazer o controlo de viajantes;

- A 22 de Janeiro são cancelados todos os vôos e comboios de e para a região de Wuhan;

- A 23 de Janeiro, a China coloca três cidades em quarentena e cancela as comemorações do Ano Novo Lunar. Neste mesmo dia, a OMS afirma que o surto que já contagiou centenas de pessoas não é ainda motivo de emergência global;

- A 30 de Janeiro a OMS finalmente considera o surto uma o emergência global;

- A 15 de Fevereiro, o Director Geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirma que “as medidas que a China adoptou para conter o surto na sua origem ganharam tempo ao mundo”;

- A 16 de Fevereiro são detectados 16 casos na Lombardia, em Itália. No dia seguinte, são já 60;

- A 8 de Março o governo italiano decreta uma quarentena regional;

- A 11 de Março a OMS declara que o surto de COVID-19 é uma pandemia global;

- A 14 de Março, os governos franceses, espanhóis decretam o encerramento de vários espaços públicos e outras medidas de quarentena;

- A 19 de Março, a Itália ultrapassa a China em número de mortes relacionadas com o COVID-19.

E partir daqui o cenário já é suficientemente recente para dispensar um relato.

De acordo com esta cronologia e as declarações do Director Geral da OMS, não só a actuação das autoridades chinesas não foi laxista, como foi essa actuação que ganhou tempo para que o resto do mundo se preparasse para enfrentar a pandemia.

Porquê então esta narrativa de culpabilização dos chineses ou do seu governo?

Donald Trump chama-lhe o vÍ­rus chinês. No Sol, João Lemos Esteves chama-lhe mesmo “o vÍ­rus do Partido Comunista Chinês”. O neonazi Mário Machado faz um vÍ­deo a imputar a origem do vÍ­rus aos “deploráveis” hábitos alimentares dos chineses. Nada disto é ao acaso; como podemos ler numa informação confidencial divulgada pelo Daily Beast, está em curso uma campanha de desinformação lançada pela Casa Branca de culpabilização do governo chinês como forma de ilibar a sua resposta tardia e insuficiente. Esta narrativa tem sido adoptada pela imprensa e dado frutos e já é para muitos ponto assente, mesmo para muitos na chamada “esquerda”, que fazem agora coro com o neonazi culpando os chineses pelos seus hábitos alimentares, justificando-o com vÍ­deos do YouTube. Usam a informação de que o vÍ­rus tem origem zoonótica para sustentar essa afirmação, ignorando que devido Í  espécie humana ser muito recente em termos biológicos, muitas das doenças que nos afectam já cá andavam antes de nós. Sim, o COVID-19 é de origem zoonótica, mas também o Ébola, a salmonela, muitas gripes, a raiva, para não mencionar uma série de parasitas. 61% dos agentes patogénicos que infectam humanos têm origem zoonótica.

E se esta narrativa ganha fôlego, deve-o Í  tradicional sinofobia ocidental e a um anti-comunismo primário que é também useiro e vezeiro no Ocidente. No inÍ­cio do séc XX, o sentimento anti-comunista foi exacerbado nos EUA, na Alemanha ou no Reino Unido como forma de reprimir os trabalhadores e a sua luta pela superação do capitalismo. O mesmo no pós Segunda Guerra e em todo o perÍ­odo de Guerra Fria. Em Portugal, com especial incidência no Norte do paÍ­s e nas regiões autónomas, homens do antigo regime, a Igreja Católica e terroristas de extrema-direita (alguns dos quais encontraram depois poleiro no PSD e no CDS, cumpridos que estavam os seus objectivos), assustaram o povo com relatos ignóbeis dos comunistas que aÍ­ vinham para lhes tirar as terras e os filhos. No Brasil, Bolsonaro fez-se eleger com a cartilha anti-”marxismo cultural”.

E agora em Portugal, a reboque do Estado de Emergência, depois de primeiramente ter sido condicionado o direito de greve, de manifestação e de resistência, vem agora um segundo decreto reforçar esse ataque aos direitos dos trabalhadores, com a seguinte declaração:
“Fica suspenso o direito das comissões de trabalhadores, associações sindicais e associações de empregadores de participação na elaboração da legislação do trabalho, na medida em que o exercÍ­cio de tal direito possa representar demora na entrada em vigor de medidas legislativas urgentes para os efeitos previstos neste Decreto.” Está aqui: o estado burguês entende que os sindicatos são um estorvo, e pretende desta forma silenciá-los. Numa altura em que os trabalhadores sofrem um brutal ataque aos seus direitos e ao seu sustento, vêm-se privados de poder defendê-los quer nas ruas, quer na mesa de negociações. Tudo com o beneplácito de Marcelo, Costa e Rio, que ensaiam assim a reorganização do poder rumo a um Bloco Central de “salvação nacional”.

Como diria o Brecht, coberto de razão, “não há nada mais parecido com um fascista do que um burguês assustado”. Diria ainda o Brecht que “O fascismo é uma fase histórica do capitalismo; neste sentido, é algo novo e ao mesmo tempo antigo. Nos paÍ­ses fascistas, o capitalismo continua a existir, mas apenas na forma de fascismo; e o fascismo apenas pode ser combatido como capitalismo, como a forma de capitalismo mais nua, sem vergonha, mais opressiva e mais traiçoeira.”

Já todos percebemos que vêm aÍ­ tempos difÍ­ceis. Que depois de lutarmos contra o COVID-19, vamos ter de lutar contra a austeridade, contra a repressão. Alguns direitos que até agora nos pareciam impossÍ­veis estão agora em vigor a tÍ­tulo provisório, provando que afinal sempre foram possÍ­veis, e quando tudo isto terminar não vamos querer abrir mão deles. E para nos forçar a abdicar deles, cá temos o Estado burguês a muscular-se, para no-los tirar Í  força e a sangue se necessário.

Haja greve. Haja manifestação. Haja resistência. Porque mesmo sendo ilegal, será sempre justa.

Fonte: https://manifesto74.blogspot.com/2020/04/mentira-e-desinformacao-passadeira.html
mentira-e-desinformacao-passadeira.html

Gostaste do que leste?

Divulga o endereço deste texto e o de odiario.info entre os teus amigos e conhecidos