Os destruidores da LÍ­bia agora são “pela LÍ­bia”

Manlio Dinucci    16.Nov.18    Outros autores

A Itália participou activamente, há sete anos, na destruição da LÍ­bia pelos EUA/NATO. O Estado lÍ­bio foi destruÍ­do e pilhado, e a sua destruição deu origem a uma vaga de refugiados que, em boa parte, procura atingir as costas da Itália. É provavelmente essa a razão “humanitária” que leva os que participaram nesse crime monstruoso a promover agora uma “conferência” sobre a questão.

Um crescente da lua (sÍ­mbolo do islamismo) desenhado como um hemisfério estilizado que, flanqueado por uma estrela e pelas palavras “for/with Libya” (por/com a LÍ­bia) representa um mundo que se quer colocar ao lado da LÍ­bia: eis o logotipo da “Conferência pela LÍ­bia” organizada pelo governo italiano, como o evidencia a bandeira tricolo na parte inferior do crescente/hemisfério.

A Conferência internacional realiza-se em 12-13 de Novembro em Palermo, nesta SicÍ­lia que há sete anos foi a principal base de lançamento da guerra com a qual a NATO sob comando EUA demoliu o Estado lÍ­bio. Essa guerra iniciava-se através do financiamento e armamento de sectores tribais e de grupos islamitas hostis ao governo de TrÍ­poli e da infiltração no paÍ­s de forças especiais, entre as quais milhares de comandos do Qatar camuflados em “rebeldes lÍ­bios.” Depois, em Março de 2011, era lançado o ataque aeronaval EUA/NATO que durou 7 meses. A aviação efectuaria 30 mil missões, das quais 10 mil atacantes, utilizando mais de 40 mil bombas e mÍ­sseis.

Por vontade de um vasto agregado polÍ­tico que ia da direita Í  esquerda, a tália participava na guerra não apenas com a sua aeronáutica e marinha, mas também colocando Í  disposição das forças EA/NATO 7 bases aéreas: Trapani, Sigonella, Pantelleria, Gioia del Colle, Amendola, Decimomannu e Aviano.

Com esta guerra de 2011 a NATO demolia este Estado que, na margem sul do Mediterrâneo em face da Itália, tinha atingido, embora com significativas desigualdades internas, “altos nÍ­veis de crescimento económico e de desenvolvimento humano” (tal como o documentava o próprio Banco Mundial em 2010), superiores aos dos outros paÍ­ses africanos. Era testemunho disso o facto de terem encontrado trabalho na LÍ­bia cerca de dois milhões de imigrantes, na sua maioria africanos. Ao mesmo tempo a LÍ­bia teria, com os seus fundos soberanos, tornado possÍ­vel o nascimento em ́frica de organismos económicos independentes e de uma moeda africana.

Os EUA e a França – como o provam as mensagens de correio electrónico da secretária de Estado Hillary Clinton – tinham-se posto de acordo para bloquear o plano de Kadhafi de criar uma moeda africana, alternativa ao dólar e ao franco CFA imposto pela França a 14 ex-colónias africanas.

Após a demolição do Estado e o assassÍ­nio de Kadhafi, na caótica situação que se seguiu, teve inÍ­cio tanto no plano interno como no plano internacional uma luta feroz pela repartição de um enorme espólio: as reservas petrolÍ­feras – as maiores de ́frica – e de gás natural; o imenso lençol núbio de água fóssil, esse ouro branco em perspectiva de se tornar mais precioso do que o ouro negro; o próprio território lÍ­bio, de primeira importância geoestratégica; os fundos soberanos de cerca de 150 milhares de milhões de dólares investidos no estrangeiro pelo Estado lÍ­bio, “congelados” em 2011 nos maiores bancos europeus e norte-americanos, roubados, por outras palavras. Por exemplo, de 16 milhares de milhões de fundos lÍ­bios, bloqueados no Euroclear Bank na Bélgica e no Luxemburgo, desapareceram mais de 10. “Desde 2013 – documenta a RTBF (radiotelevisão belga francófona) – centenas de milhões de euros provenientes desses fundos foram enviados para a LÍ­bia para financiar a guerra civil que provocou uma grave crise migratória.”

Numerosos imigrantes africanos na LÍ­bia foram aprisionados e torturados pelas milÍ­cias islâmicas. A LÍ­bia tornou-se a principal via de tráfego, nas mãos dos traficantes e operadores internacionais, de um fluxo migratório caótico que em cada ano provocou mais vÍ­timas no Mediterrâneo do que as bombas da NATO em 2011.

Não pode silenciar-se, como fizeram os organizadores da contra-cimeira de Palermo, que na origem desta tragédia humana está a guerra EUA/NATO que, há 7 anos, demoliu um Estado inteiro em ́frica.

Fonte: https://ilmanifesto.it/i-distruttori-della-libia-ora-per-la-libia/

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